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Muitos são os sintomas óbvios da falta de educação no Brasil. O recente resultado do Ideb, que escancara a piora no ensino médio, apenas constata o que vemos no dia a dia nas relações pessoais e profissionais. Há um avassalador analfabetismo por todos os lados. A pontuação ortográfica virou um artigo de luxo, por exemplo. Exigir lógica no pensamento descritivo é uma ilusão purista. A começar pelo Ministério da Educação, não há uma política nacional capaz de liderar a aplicação de um sistema educacional de capacitação efetiva. Parece haver um paralelo entre a instituição da pedagogia do oprimido e a degradação da educação a partir da década de oitenta como meio de contrapor o ideário da ditadura política precedente, ao se abandonar os princípios de hierarquia, autoridade, disciplina, respeito, organização e pedagogia etária.

Esse fenômeno pode ser considerado mais um recalque da esquerda, que põe em prática um instrumento de contraponto aos ressentimentos ou programas ideológicos sem atentar para a realidade em curso ou à frente. Como formula Piaget, até os doze anos de idade, a criança deve ser encaminhada para sua autonomia, quando poderá estabelecer relações adequadas com outros indivíduos autônomos. No entanto, a teoria piagetiana da aprendizagem foi distorcida pelo mal entendido sobre a repercussão do aprendizado no desenvolvimento individual, como se a criança pudesse se relacionar com o professor de forma exclusivamente ativa e o mestre devesse renunciar a assistência adulta.

A renúncia ao método da aprendizagem passiva e tutorial até a referida idade implica – como é assistido nas escolas públicas do Brasil -, uma inversão de valores em que os limites de comportamento são descuidados em nome de uma liberdade infantil imprópria e com consequente redução de aprendizagem, porque não há cobrança de apreensão de conteúdo mínimo ou não há mediação com autoridade disciplinar. É como se colocar um número extraordinário de crianças na escola transformada em um parque de diversão com brinquedos desmantelados, para socorrê-las depois do desastre. Sem saber ler ou escrever, essas crianças prosseguem a carreira estudantil debilitadas de fundamentos básicos, cuja estratégia de política educacional pública contempla o estabelecimento de cotas para ingresso no ensino superior como remédio para a falta de educação.

Em outros termos, o processo educacional vigente não encaminha o aluno para sua autonomia, quando poderia ser capaz de se situar consciente e competentemente na rede dos diversos pontos de vistas e conflitos presentes numa sociedade. Esse desmantelo na escola não foi drástico como a Revolução Cultural na China, que, pelos princípios de esquerda, destruíram todos os livros e ensinamentos da tradição milenar para prática ortodoxa do comunismo. Porém, enquanto os chineses reavaliaram essa estratégia e implementaram o Salto Adiante, o Brasil se fez refém da necessidade de promover a igualdade dos relacionamentos sem a contrapartida do processo de maturação dos indivíduos, ou seja, o processo de educação deve ensinar a realidade já construída e existente. A criança deve aprender a linguagem e a escrita por meio da correção pedagógica em adequação ao conhecimento estabelecido no conteúdo curricular – na alfabetização, não é a criança quem deve construir o conhecimento, mas, sim, ser ensinada a apreendê-lo e instrumentá-lo, a fim de prosseguir o caminho para liberdade intelectual na autonomia.