Você que está com esta revista em mãos, pode declarar sem medo de cara feia “Não falta dinheiro para a Educação”. Ponto! Pelo contrário, sobra e muito. O Brasil é o único país do continente americano que nos últimos 15 anos investiu cerca de 7% do seu PIB em Educação. Levando em consideração que só em 2018 o PIB nacional chegou a R$ 6,8 trilhões, 7% desse montante representa a imensidão de R$ 476 bilhões só para a pasta da Educação. Na prática, é a soma de toda a produção bruta da Bolívia, Paraguai e Uruguai juntos.

De acordo com o relatório da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) a Colômbia, por exemplo, investe humildes 4,7% do seu PIB, nossos hermanos da Argentina, 5,3%, o Chile 4,8%, México 5,3% e até os Estados Unidos, a nação mais desenvolvida do planeta, não passa de 5,4%. Já o Brasil está até acima da média dos países que compõem a OCDE que gira em torno de 5,5%. Mas, mesmo acima de todas as médias, o país está nas últimas posições em avaliações internacionais de desempenho escolar. A constatação é do relatório Aspectos Fiscais da Educação no Brasil, divulgado pela Secretaria do Tesouro Nacional, do Ministério da Fazenda, baseado no Programme for international Student Assessment (PISA) que vem sendo atualizado desde 2015, com propósito de avaliar o desempenho escolar de dezenas de países em três quesitos principais: matemática, ciências e leitura.

Na última edição, foram analisados 70 países, entre eles, o Brasil. O resultado foi uma tragédia sem precedentes para a nação que tem Paulo Freire como patrono e para um país que a ¼ de século é governado pela esquerda acadêmica e esquerda sindical.

Segundo o PISA, o Brasil está no fundo do poço juntamente com os dez últimos do ranking em ciências (63º) e matemática (65º); em leitura, a modesta 59ª posição. No total, 841 escolas brasileiras e 23.141 alunos foram avaliados. Os dados apontam que o Brasil está muito abaixo das grandes potências educacionais, como Cingapura, China e Finlândia.  Mas se há investimento suficiente, onde está então o erro? Como fazer para mudar esse cenário caótico?

O professor Marcelo F. Costa, do Instituto de Psicologia da USP e Pós doutor em Neurociências pela Universidade de Coimbra, sinaliza números muito interessantes. Afirma o professor, com base no que diz a Associação Americana de Economia da Educação, que os investimentos em Educação na formação de um cidadão pleno, em sua relação custo x benefício se dá na primeira infância (0 a 6 anos), ou seja, para cada 1 real investido, o retorno é de treze cidadãos bem formados, ao passo que no ensino superior, a cada 10 reais investidos, se obtém apenas um cidadão bem formado.

Tomando como exemplo a Finlândia, que é referência mundial em qualidade de ensino, a qualificação dos professores é critério essencial para se almejar entrar na profissão. Isso porque, o alto investimento monetário em professores por parte do Estado, voltados para cursos universitários e formação continuada, em contrapartida, aumenta o grau de exigência para quem deseja seguir com a profissão. Lá, todos os profissionais de todos os níveis de ensino precisam ter mestrado, a carreira de professor é muito competida e possui status elevado. Além disso, com base nas taxas de aprovação, naquele país, é mais fácil se formar em medicina do que se tornar professor.

O professor neozelandês John Hattie, diretor do Instituto de Pesquisas em Educação da Universidade de Melbourne, na Austrália, realizou uma pesquisa de 20 anos, considerada a maior análise de dados já feita na área de Educação em toda a história acadêmica, chegou à conclusão que, de todos os investimentos que se façam em Educação (redução do número de alunos por turma, reforço de ensino no contra turno e até melhoria com as instalações) geraram mais gastos e bem menos retorno que o investimento feito na carreira do professor.  No entanto, o ponto em comum em todos os países que decidiram investir na formação do professor como Finlândia, Cingapura, Coreia do Sul e Hong Kong, é a avaliação constante da qualidade da aula e avalições externas periódicas.

Já aqui no Brasil, para o Estado formar um doutor, que passou pelo grifo de mestre é necessário no mínimo R$ 200 mil reais líquidos em pelo menos seis longos anos ininterruptos. Ou seja, é o quanto se paga em 6 carros populares zero. O problema é que, em nosso país, a maioria dos professores com título de mestre ou doutor que desfrutaram do farto benefício pago pelo Estado, não pretendem servi-lo permanecendo em sala de aula de escola pública. Basta olhar para sua própria escola, quantos mestres e doutores há nela? E se há, é necessário questionar: a escola conseguiu melhorar os números do IDEB, SARESP, ENEM ou Prova Brasil por meio da ação do docente mestre ou doutor financiado pela sociedade por meio do Estado?

É provável que esta comparação ainda não tenha estudo, mas em Caieiras há um exemplo concreto de uma escola pública situada no bairro de Laranjeiras, que abrigava em seu quadro docente pelo menos cinco mestres formados pela PUC, os quais foram financiados por bolsa do Estado. Todos lecionavam em faculdades com ótimo salário, enquanto a própria escola pública em que eram efetivos permanecia há décadas na rabeira de todos os indicadores de aprendizagem. E pior, eram docentes que tornaram-se sindicalistas ativistas intitulados mestres e doutores que contribuíram apenas para o desmonte de governos não alinhados ao PT.  Pela lógica, para que serviu tanto investimento do Estado no ensino superior destes profissionais?

É nesta coerência, que o atual ministro da Educação, Ricardo Vélez Rodríguez, (indicado pelo filósofo Olavo de Carvalho) já anunciou a intenção de mudar a inversão dos investimentos para Educação. Segundo o ministro, não falta dinheiro para a pasta, o que ocorre é que 70% é destinado para o Ensino Superior, enquanto que o Ensino Básico, Fundamental e Médio, ficam com parcos 30%. Caso o governo consiga tal façanha será uma mudança radical, – embora a própria Neurociência já tenha demonstrado que o período que demanda maior atenção e investimento seja a Primeira Infância- o fato é que, na base da sociedade serão exigidos mais docentes qualificados, os quais naturalmente devam ser melhores remunerados.

Óbvio que quanto maior o salário, maior será a cobrança, a exigência, o currículo e a formação. Não deverá haver, portanto, espaços para docentes formados pela internet aos finais de semana pelos cursos virtuais de R$ 100 reais.  Os professores, de fato terão que mostrar e demonstrar sua qualificação.

Neste ponto, os sindicatos dos professores obviamente são contrários. No caso do Estado, o único sindicato que representa os professores é radicalmente contra, pois depende de docentes que se encostaram no Estado como se um barranco fosse, esperando somente a possível aposentadoria para o derradeiro suspiro. Enquanto isso, uma queda de braço sem precedentes é travada entre: a necessidade de mudanças patrocinada pela direita liberal e conservadora X a manutenção do staus quo dos esquerdistas freirianos.