O turismo religioso vem apresentando anualmente um crescimento vigoroso em todo território nacional, como apontam as mais recentes pesquisas do MTur. A maioria são “turistas de fim de semana” que buscam locais onde a fé se apresenta com maior intensidade.
Para se ter uma ideia, somente em 2014, cerca 17,7 milhões de brasileiros viajaram de uma cidade para outra ou pelo país em busca de algum atrativo religioso. Em 2017 este número já passou de 25 milhões, forçando as agências de turismo a redesenhar novos roteiros que vão desde simples visitações aos lugares sagrados, peregrinações, até viagens de penitência ou de reparação. Esses números ainda devem crescer em 2018 visto que os prefeitos de centenas de cidades continuam investindo pesado neste crescente mercado.
O município de Caieiras encontra-se na rota do turismo religioso, independente da aceitação ou não de alguma liderança política. O fato é que, com a chegada dos Arautos do Evangelho à Serra da Cantareira em Caieiras, milhares de turistas de fim de semana passaram a entrar e sair silenciosamente em território caieirense, sem nada consumirem no comércio local.
Esta edição da revista Cidade Educadora, traz uma matéria provocativa destinada aos que ocupam as cadeiras de gerenciamento do turismo na cidade, ou a rigor, um leve “puxão de orelhas” para que deixem seu estado de conforto das telas de Facebook e passem a olhar com carinho para o Leste do município. Até porque, hoje é impossível negligenciar números tão robustos e agigantados do turismo no município de Caieiras. É inadmissível um município receber 150 mil visitantes anualmente num templo religioso e não conseguir sequer articular e elaborar planos e propostas para transformar essas visitas em receita para o erário público.
No interior da Igreja a batalha entre Conservadorismo X Marxismo é revelada ao mundo
Os Arautos do Evangelho representam uma das principais forças de elite da Santa Sé romana no combate ao marxismo dentro da Igreja católica, podendo até ser comparada como “Templários do século XXI”.
Para entender o sentido dos Arautos, é necessário reportar até a década de 1970. Logo ao término do Concílio Vaticano II, a Teologia da Libertação (TL) encontrou um terreno fértil nas CEBs (Comunidades Eclesiais de Base) para expandir a filosofia marxista dentro da Igreja. Neste cenário, começaram a surgir pequenos movimentos de resistência contra o pensamento marxista.
A TL cresceu imensamente até a década de 1990, quando a estruturação da Renovação Carismática Católica (RCC), juntamente com alas conservadoras como os Arautos do Evangelho mostraram-se cada vez mais presentes e combatentes ao marxismo na Igreja.
Com os Arautos do Evangelho, Caieiras disputa com Pirapora do Bom Jesus o 1º lugar na RMSP com maior potencial turístico
Até a década de 1990, Caieiras era conhecida como a cidade dos Pinheirais, herança da década de 1920, quando a Cia Melhoramentos – detentora ainda hoje de 50% dos 96 km² do município – iniciou em alta escala o plantio de Araucária angustifólia forrando o território caieirense com uma espécie derivada de pinus. Na metade da década de 1990, a lei 2676/96 fez de Caieiras, a capital brasileira do lixo, abrigando no início do segundo milênio, o segundo maior aterro sanitário do mundo.
Voltando os olhares para as transformações ocorridas nos movimentos religiosos em todo território nacional, neste mesmo período, nota-se a qualificação do movimento conservador católico opondo-se vigorosamente ao avanço da Teologia da Libertação de cunho marxista. Um dos principais símbolos dessa resistência, os Arautos do Evangelho, se agigantaram rapidamente na primeira década de 2000, e passaram a ocupar vários pontos da Serra da Cantareira, tendo inclusive sua sede no segregado bairro de Santa Inês no extremo Leste do município.
A sede dos Arautos em Caieiras, ocupa uma área de 100.000 m², sendo a maior extensão territorial ocupada por um seguimento religioso na Grande São Paulo, superando até o Templo de Salomão, no bairro paulistano do Brás, sede da Igreja Universal do Reino de Deus. Além disso, sua localização é estratégica, limítrofe à porção norte da capital paulista, está apenas a 15 km do Rodoanel trecho norte, com fácil acesso para a Rodovia Fernão Dias pelo município de Mairiporã.
Hoje os Arautos do Evangelho estão presentes em mais de 70 países, sendo em Caieiras um braço do próprio Estado do Vaticano, o qual recebe anualmente mais de 100 mil fiéis, fazendo de Caieiras a segunda cidade com o maior potencial turístico religioso da grande São Paulo, perdendo apenas para Pirapora do Bom Jesus que recebe anualmente cerca de 200 mil turistas.
Tanto Caieiras como Pirapora do Bom Jesus, são cidades turísticas que não precisam de redes hoteleiras para acolher os turistas, porque tratam-se de “turistas de fim de semana”, aqueles indivíduos que se deslocam do seu lugar de origem (moradia) para outras localidades para desfrutar de lazer, descanso, eventos, atividades culturais dentre outras e retornam no mesmo dia.
Chegou a hora de impulsionar o comércio local no bairro Santa Inês
Enquanto o departamento de turismo de Caieiras insiste em “jogar a rede” no lado centro e oeste do município com a insistência apenas na visitação aos Fornos de Cal (em local privado) e à réplica de um Cristo Redentor com pouca visitação, o lado Leste ostenta a impressionante marca de 150 mil pessoas que anualmente entram silenciosamente no território caieirense e saem, sem ao menos comprar uma coxinha no comércio local, ou quando o fazem, utilizam-se das opções oferecidas pelos municípios de Mairiporã e São Paulo. Isto porque, nem mesmo os moradores que vivem ao entorno dos Arautos têm consciência do que a existência deles no bairro representa.
No entanto, o prefeito Gersinho Romero, empresário de visão, tem ao seu lado secretários antenados com o potencial turístico da cidade dos Pinheirais que já detectaram esse grave problema e apostam no potencial dos seus secretários e equipes de obras, educação, planejamento e trabalho para impulsionar o comércio local conscientizando, formando e qualificando empreendedores, cujo objetivo é gerar receita ao município aproveitando o potencial econômico deste expressivo número de “turistas de fim de semana” que visitam Caieiras, sem sequer conhecê-la.