Nos últimos anos, a Escola Isaura Valentini Hanser vem sofrendo drasticamente com o esvaziamento das salas de aula, principalmente do Ensino Médio (1º, 2º e 3º ano). Mesmo sendo a escola, uma das menores da Diretoria de Ensino de Caieiras com apenas sete salas, sendo que o noturno funciona com apenas três. Localizada num bairro com demanda mais do que suficiente para lotar a escola, e ainda próxima do bairro Ninho Verde I já em São Paulo e do Sítio Aparecida e Ninho Verde II em Caieiras, locais em que não há escolas estaduais, tudo indica que a comunidade não se sente atraída pela Unidade Escolar presente há mais de 20 anos no bairro de Vila Rosina.
Diante desse fato comprovado, o Dirigente de Ensino, professor Celso Nicoletti, confirmou ao jornal Nosso Bairro que o mais provável em 2016, é que a Escola Isaura Valentini Hanser feche suas portas para o Ensino Fundamental II e Médio, relocando os alunos para a Escola Dr. Olindo Dártora também no bairro de Vila Rosina, restando ao Isaura Hanser talvez e somente o Ensino Fundamental I. Além disso, há também a possibilidade do prédio ser municipalizado, por enquanto há muita discussão em jogo, o que há de certo, é que a Escola Isaura Valentini faz parte de acalorados debates sobre seu futuro próximo.
“Em vez de cuidar do jardim, Escola Isaura Hanser passou os anos correndo atrás das borboletas…”
Infelizmente os números provam que a Escola Isaura Valentini Hanser mesmo estando localizada num bairro com menor índice de criminalidade e sendo uma das menores dos cinco municípios da sub-região norte da Grande São Paulo, sendo também uma das duas escolas localizadas num conglomerado urbano que ultrapassa 10 mil habitantes, o que comprova demanda mais do que suficiente para seu pleno funcionamento, atualmente carece de alunos. A pergunta que se faz é: Como isso é possível?
Uma das respostas encontra-se no resultado da prova Brasil do ano de 2013, onde a escola aparece em último lugar dentre todas as escolas do município de Caieiras. Para se ter uma ideia da catástrofe, dos 51 alunos avaliados em Língua Portuguesa do 9º ano, ou seja, alunos que chegaram ao final do Ensino Fundamental II, apenas 7 (isso mesmo, apenas 7!) demonstraram aprendizado adequado, ou seja, só 13%. Bem atrás de escolas também periféricas como o José Carlos localizada no bairro Vera Tereza que bateu na casa dos 47%, e até a escola Armando Sestini, no bairro do Jardim dos Eucaliptos, uma das comunidades mais problemáticas de Caieiras que chegou a 33%. E pasmem, em Matemática, desses 51 alunos avaliados na Escola Isaura Valentini Hanser, apenas 3 demonstraram aprendizado satisfatório.
Mas se você acha esses números catastróficos, o pior começa agora. Daqueles 51 avaliados do 9º ano em 2013, onde 87% foram reprovados em Língua Portuguesa e 94% reprovados em Matemática, 100% foram aprovados “com louvor”, segundo os critérios de avaliação da Unidade Escolar para o 1º ano do Ensino Médio em 2014 e foram também 100% aprovados para o 2º ano de 2015 concentrando-se hoje em duas salas esvaziadas, cujos alunos se forem aprovados, conseguirão “talvez” formar uma única sala de 3º ano. E os demais alunos? Para onde foram? Oras, uns desistiram, outros buscaram outras unidades.
Curiosamente o Estado cumpre seu papel oferecendo o necessário para o funcionamento da Unidade Escolar, mas infelizmente, o modelo de ensino complacente, facilitador e moroso, defendido também por dois ou três que se sentem donos da escola, senhores absolutos do saber, são no meu entendimento a principal causa dos números catastróficos apresentados até aqui. Pois se fosse o contrário, seriam eles, obviamente os artífices do sucesso estudantil.
Por ser morador do bairro há mais de 40 anos, professor dessa escola há mais de 10, jornalista, autor de dois livros e com vastas publicações de artigos e reportagens em jornais e revistas dos mais variados segmentos, defendo o fechamento das salas de aula do Ensino Fundamental II e Médio dessa escola, sim! Por um único motivo, antes de pensar em meia dúzia de funcionários, penso no meu bairro. Penso no futuro dos nossos jovens, tenho consciência que para melhorar o bairro é necessário uma “escola jardim” bem cuidada, aonde as “borboletas” vão ao seu encontro. Mas para ter uma boa escola é necessário mudança de paradigma. Mudar exige postura, mudar exige coragem, exige humildade em aceitar o erro, aceitar o fato que tudo que aprendemos nos bancos acadêmicos com essas intermináveis bibliografias de intelectuais e doutores marxistas, pode na prática, não ter servido para nada.
Além disso, no meu entendimento, essa escola há muito tempo perdeu a credibilidade. Os alunos acreditam que aconteça o que acontecer serão aprovados, porque todos foram aprovados no passado, continuam obtendo notas louváveis no presente sem nenhuma dificuldade, sem nenhum desafio, fazendo dos professores simples objetos de gozação. A certeza da aprovação virou crença coletiva, chegando ao cúmulo de ser convertida em chacotas até em facebook.
No meu humilde entendimento, estou inclinado a crer que a escola destinada somente aos pequeninos do Ensino Fundamental I é uma segunda chance, uma nova oportunidade para pensar a médio e longo prazo, na construção de uma nova geração de estudantes saudáveis, apaixonados pelo estudo, apegados aos desafios da sociedade real globalizada, competitiva e dinâmica. Já para essa geração, é necessário mudar de escola sim, respirar novos ares e torcer para que encontrem algo muito melhor do que essa escola foi capaz de oferecer. A nós, fica o gosto amargo da derrota. A nós, fica o exemplo para que outros não façam o mesmo que essa escola fez: passar os anos correndo atrás de alunos, onde na prática deveria ser o contrário.
