Muitas pessoas perguntam a nós, pedagogos, coisas do tipo: “por que meu filho(a) não me obedece? Eu converso com ele(a), mas a conversa não é eficiente! Só me resta dar umas boas palmadas, porque eu perco a paciência, mas isso também não adianta, pois ele(a) logo repete o comportamento”!
A resposta é simples: as palmadas não funcionam como instrumentos de educação! Contudo, dependendo da conversa, também há ineficácia.
Os pais precisam entender, primeiramente, que a criança, bem como o adulto, aprende por imitação. Ou seja, ao observar um comportamento, aprende o comportamento.
Como o exemplo é um ótimo educador e os pais são as figuras mais próximas da criança na maioria das situações diárias, de modo que se transformam em espelhos para ela, cabe aos pais observarem seu comportamento diante do filho, refletirem perante suas ações, pois a criança pode aprender por imitação, como os adultos, mas nos primeiros anos de vida, especialmente nos cinco primeiros, não possui discernimento sobre o que é adequado e o que é inadequado.
Dessa forma, se os pais possuem um comportamento inadequado e a criança o reproduz, a culpa não é da criança. Nunca!
Para mudar esse padrão, antes de conversarem com a criança, os pais devem tentar não reproduzir o próprio comportamento inadequado, ao menos quando estiverem com a criança, e observar como ela agirá nos próximos dias.
Caso os pais mudem o comportamento e a criança não apresente mudança, é necessária a conversa para não só educar, como conhecer melhor o(a) filho(a).
Para conversar adequadamente com a criança, os pais devem se utilizar de boa dose de paciência e fazer o seguinte:
– primeiramente, escolher um horário em que tanto eles quanto a criança estejam tranquilos. Após o trabalho dos pais, por exemplo, quando estiverem relaxados, em casa, e quando a criança estiver igualmente relaxada, mas sem sono ou sem estar envolvida em atividades como brincadeiras ou assistindo desenhos;
– dizer à criança, de forma amigável, que precisa conversar com ela e levá-la a um local mais tranquilo da casa para que a conversa ocorra;
– ficar de frente para a criança, em uma posição na qual fiquem da altura dela e possam olhá-la nos olhos, o que reforça a confiança e prende a atenção da criança.
– acariciar a criança enquanto falam, pois os toques tornam a criança mais relaxada e aberta a conversar;
– perguntar, antes de tudo, com o máximo interesse, como a criança se sente, se há algo que ela deseja contar, algum problema que esteja enfrentando e tentarem resolver junto à criança posteriormente; sempre falar em tom de voz mediano e firme, mas sereno, sem alterações, de modo breve e objetivo, de forma que a criança possa entender o que desejam; explicar qual é o comportamento inadequado, o motivo da inadequação e as consequências para a criança, mostrando a ela o motivo para mudar; também, durante a conversa, enaltecer as qualidades da criança e reforçar a amizade entre eles.
– fazer pausas para ouvir com atenção tudo o que a criança quiser dizer.
– ao fim da conversa, demonstrarem admiração de forma positiva por terem conversado, pela atenção recebida da criança e recompensá-la com algo por conta do bom encaminhamento da conversa. Cabe lembrar que a melhor recompensa sempre é o tempo junto aos pais para brincar ou passear.
Ao seguirem esses passos, não há como a conversa ser ineficaz. A menos que os pais comecem, mas desistam de conversar, o que os torna complacentes em relação ao comportamento inadequado. Se há choro por parte dos pais, chantagens de quaisquer tipos ou menção de implorarem à criança por bom comportamento, se tornam reféns de seus filhos; caso os pais gritem, passem ordens, tente coagir a criança ao bom comportamento, se tornam tiranos, autoritários.
Serem complacentes, reféns ou autoritários são extremos que tornam os pais ineficientes como educadores. Apenas o “ter autoridade”, que significa ser amigo sem cair na complacência, ser protetor sem se tornar refém, e firme na postura sem se mostrar ditador, é o caminho eficaz para uma educação saudável, de qualidade e libertadora, em vez de falha, libertina ou opressora.
Assim, as dicas anteriores, acerca de como os pais devem conversar com os filhos, são inspiradas no modelo que tem autoridade. Conforme mencionado, ao seguirem essas dicas, a conversa será eficaz, de forma que não precisarão enveredar pelas palmadas como supostas soluções.
E, finalmente: por que as palmadas não funcionam? O motivo já foi mencionado anteriormente, de forma implícita: ao baterem no filho, os pais dão a entender a ele que esse comportamento é normal, principalmente em situações estressantes, o que o levará a copiar o exemplo, ao se sentir tentado a bater em outras pessoas, dependendo da situação vivida, e essas pessoas poderão ser, inclusive, os pais. Quem deseja que o filho se torne agressivo? E ele não será criança a vida toda, de forma que sua força aumentará ao passar dos anos e, sua fúria, igualmente poderá aumentar.
Também, não é algo bom levar palmadas, pode machucar e criar mágoas, ainda mais para a criança, que, muitas vezes, não sabe o real motivo de apanhar.
Em algumas vezes, ainda, a criança pode se “acostumar” a apanhar e, por conta das palmadas, testar a paciência dos pais constantemente ao fazer birras, pois sabe que apenas apanhará.
O que a criança aprende ao apanhar? Quando apanha, há diálogo? Não. E sem diálogo, não há argumentação. E sem argumentação, por sua vez, não há ensino nem aprendizagem. Em outras palavras: sem explicação, não há como educar.
Assim sendo, pais, o melhor conselho de todos frente aos comportamentos inadequados das crianças é: exercitem a paciência diariamente. Evitem ao máximo as palmadas, até que elas sejam substituídas pelas conversas estruturadas que levarão vocês à promoção de uma boa educação e à construção de um vínculo baseado no respeito para toda a vida com seus filhos. Pode não ser fácil, mas é totalmente possível. Boa sorte!