A origem da cidade de Roma é no mínimo curiosa. Diz uma lenda que dois gêmeos, Rômulo e Remo foram jogados no rio Tibre, na Itália. Em seguida, apareceu uma loba que contestando a lei natural, não os devorou, ao contrário, deu-lhes de mamar como se fosse a verdadeira mãe. Depois de algum tempo apareceu um casal de pastores que os resgatou e os criou até a fase adulta quando retornaram à cidade natal de Alba Longa e ganharam terras para fundar uma nova cidade que seria Roma.
Como todos querem “ser pai de filho bonito”, os gregos também reivindicaram paternidade romana. Contam os helenos que, com a destruição da cidade de Tróia, em 1400 a.C, o herói Enéias – dizendo protegido por Júpiter e Vênus – fugiu para a região da Península Itálica e ali fundou a cidade de Lavínio. Tempos depois, Ascânio, filho de Enéias, realizou a fundação do reino de Alba Longa, que seria mais tarde, Roma.
A versão mais convincente é que Roma nasceu da mistura de quatro povos briguentos e encrenqueiros: os celtas, etruscos, italiotas e gregos, os quais fugiram das guerras na parte norte e sul e se encontraram no centro oeste da Península. Lá, por volta do século VIII a.C. começou a se desenvolver às margens do rio Tibre uma economia baseada na agricultura e nas atividades pastoris. Dizem ainda que por ser uma região plana, fácil de ser invadida, os primeiros romanos tiveram que passar as noites dormindo com um olho aberto e outro fechado. Em outras palavras, o local desprotegido fez dos primeiros romanos, soldados naturalmente preparados para a guerra de corpo a corpo.
Desde suas origens, a pequena cidade de Roma não parou de crescer, dominou outras cidades, outras regiões, outros reinos, outros territórios. E faltando 27 anos para o nascimento de Cristo, Roma se converteu num imenso império controlando todo o mar Mediterrâneo e com ele a Grécia, o Egito, a Macedônia, a Palestina e até a península Ibérica.
No primeiro século da era cristã, Roma era uma cidade com mais de um milhão de habitantes de diversos lugares que se aglomeravam num espaço urbano cheio de labirintos e mercados, recheado de tabernas, cortiços, mansões aristocráticas e casas de banho oferecendo a qualquer cidadão romano uma economia diversificada e diversão para homens de posse, bem diferente daquela tristonha e acanhada cidade rural de alguns séculos antes.
Por toda cidade, tudo era comercializado, desde produtos finos como joias, linho, seda, madeira e móveis, chegando a especiarias, vinho, farinha, trigo, gado e até escravos. Todo esse comércio era alimentado por uma rede de estradas bem pavimentadas que ligavam à capital as importantes cidades e até os confins do império, facilitando o comércio e a migração de pessoas.
Toda essa movimentação em território romano era regida por um código de leis projetado para moldar o cidadão virtuoso e cívico, reforçando a obrigação do homem com a família, com a cidade, com os deuses e principalmente com o passado, que para os romanos, era algo grandioso.
As pessoas oriundas de várias partes do império traziam consigo suas culturas, seus credos, seus ideais. Fazendo da capital romana sede de várias religiões, como as crenças nos deuses mitológicos lusitanos, gauleses, egípcios e principalmente os deuses gregos.
Os romanos por sua vez, sempre focados na economia e política pouco ou nada se preocupavam com crenças alheias, toleravam sem o menor problema todos os credos, desde que seus crentes reconhecessem e adorassem o imperador como se um deus fosse.
Neste ponto que os cristãos do primeiro século, oriundos do Oriente Médio entraram em rota de colisão com os romanos, ao declararem abertamente que Jesus é o Senhor e recusarem-se a dizer o mesmo de César, isso provocou uma enorme celeuma nos cidadãos romanos levando os cristãos a serem vistos pela sociedade como um grupo de insubordinados a política de Estado e, portanto, deveriam ser eliminados.
Esse choque entre o Estado e os primeiros cristãos foi registrado pelo historiador Suetônio, o qual chegou a escrever que o imperador Claudio em 49 d.C expulsou um grupo de judeus dentre eles Áquila e Priscila (At 18.2) por ter provocado tumulto “por causa de um tal Cresto” (uma referência a Cristo). O próprio Paulo escreveu em 56 d.C., uma carta à igreja de Roma constituída por judeus e gentios (Rm 1.8-16). O mesmo Paulo esteve preso em Roma durante dois anos, cerca de 60-62 d.C, de onde escreveu as chamadas cartas da prisão Filemon, Colossenses, Efésios e Filipenses.
Pedro também esteve em Roma, e lá encontrou a morte de cruz de cabeça para baixo em 69 d.C no governo de Nero. Em sua primeira carta (1Pe 5.13), ele trata a capital do Império como a Babilônia, um lugar de luxúria, perdição e de intensas perseguições ao povo de Deus. Na mesma linha de Pedro, João, exilado na ilha de Patmos chegou comparar a cidade imperial, como a antiga “Babilônia, mãe das meretrizes e das abominações da terra”. Nela, estaria assentada a besta (uma referencia ao imperador) e o seu destino seria a destruição, profetizada em Apocalipse 18, e que de fato ocorreu em 476 d.C.
De todo modo, pela atuação direta de Pedro e Paulo, a capital romana passou a ser sede da igreja católica de origem nos apóstolos. Ainda no primeiro século, os bispos de Roma foram reconhecidos por outras cidades do Império como os sucessores de Pedro, passando assim a prestar obediência às diretrizes eclesiásticas da igreja em Roma, permanecendo assim, até nos dias atuais.