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O bairro de Vila Rosina está localizado na parte sul do município de Caieiras, limítrofe com a porção norte da capital paulista encravada em encostas íngremes de 750/800 metros que terminam no ribeirão Pinheirinho. Este estreito curso d’água é o marco divisor de Caieiras e São Paulo junto ao cemitério de Perus, e deságua na margem esquerda do rio Juqueri a uns quatro quilômetros da Vila Rosina.

Devido a topografia totalmente irregular, a Cia Melhoramentos presente há mais de um século na região e detentora ainda hoje de mais de 50% do território caieirense, nunca se interessou em fazer dessas terras uma extensão de sua fazenda, devido a dificuldade de plantio e mais ainda de colheita, assim, a geografia física determinou a história social de Vila Rosina.

O bairro tão amado por padre Humberto nasceu escondido entre morros e eucaliptos no final da década de 1960, quando Tasso B. de Correa proprietário deste sítio, resolveu lotear a área para moradores humildes vitimados economicamente pela valorização e estrangulamento socioespacial da periferia paulistana.  O crescimento de Vila Rosina remonta o ano de 1975, chegando ao seu ápice no final da década de 80, de forma totalmente desorganizada, acompanhada de graves problemas de habitação, saúde, segurança e de transporte coletivo.

Ainda nos anos 80, o que podia ser visto a margem direita da rodovia SP 332, altura do km 31 sentido Caieiras, era uma vasta plantação de eucaliptos, enquanto do outro lado uma paisagem trágica, escondida entre eucaliptos, uma parede de fortes ladeiras íngremes ocupadas por barracos em extrema situação de risco e uma pequena colina que anunciava a existência de um bairro segregado. Já o poder público sempre se mostrou interessado que Vila Rosina assim permanecesse: escondida, dependente, humilhada, cuja função era garantir votos baratos para a manutenção do poder da elite política caieirense.

Nesta conjuntura que Pe. Humberto foi inserido.  Enquanto o poder público insistia na segregação socioespacial de Vila Rosina, ele sonhava e agia na transformação do bairro. Com seus próprios recursos (oriundos da Europa), padre Humberto construiu e reformou igrejas, não só em Vila Rosina, mas em outras localidades periféricas. Suas ações eficazes e firmes interferiram também na política local, fazendo com que o poder público agisse na pavimentação de ruas e avenidas e até na construção nos anos 90, da Escola Isaura Valentini Hanser. Tanto é que, até hoje no pátio dessa escola, está registrada numa grande placa de cobre seu primeiro nome “Escola Santuário Virgem dos Pobres”, em reconhecimento a ação do saudoso sacerdote monfortino.

Com a construção do Santuário Virgem dos Pobres, Pe. Humberto fez nos 80 e 90 do bairro de Vila Rosina o maior polo turístico religioso dos cinco municípios da sub região norte da metrópole paulistana (Caieiras, Franco da Rocha, Francisco Morato, Mairiporã e Cajamar), perdendo este posto apenas na década de 2000 para os Arautos do Evangelho na Serra da Cantareira.

Passados 20 anos da inauguração do Santuário Virgem dos Pobres, com o Pe. Humberto próximo dos seus 95 anos de idade e já prognosticando um bairro em rápida transformação, com uma crescente camada de jovens, que muito em breve enfrentariam o concorrido mercado de trabalho, iniciou uma nova empreitada.  No mesmo terreno do Santuário Virgem dos Pobres, numa área de 500m²,  Pe. Humberto idealizou um local de formação profissional, assistência ética e espiritual para jovens oferecendo cursos de informática, violão, inglês, pintura, dança de salão, curso de auxiliar administrativo, artes plásticas, culinária, teatro dentre outras especialidades. Com esse objetivo, em 2004 foi oficialmente fundada a Associação Patris – Casa do Pai. Um lugar com sala de informática, sala de aula, biblioteca, cozinha industrial e salão.

E de fato, como fora preconizado por Pe. Humberto, Vila Rosina não é hoje nem a sombra do que um dia foi. O bairro conta com 100% de suas ruas pavimentadas com água, luz, telefone, internet, um grande número diversificado de comércios, indústrias, e prestadoras de serviços. O bairro é constituído maciçamente por trabalhadores e estudantes que têm em Vila Rosina seu lugar de merecido descanso. Contudo, é cada vez maior o número de jovens ociosos que perambulam pelas ruas do bairro sem a menor perspectiva de vida, onde infelizmente muitos acabam caindo na dependência química.

A desestrutura familiar do nosso século é outro grande agravante, que mostra cada vez mais a incapacidade de muitas famílias em educar seus próprios filhos, as quais acabam terceirizando a Educação para o Estado que também já provou sua total incompetência em suprir essa demanda. Basta ver os números recentes do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) que comprovam o caos existente nas escolas públicas. Nessas condições, e para o bem de toda comunidade, é necessário união, apoio, investimentos para o fortalecimento da Associação Patris, uma vez que para a juventude, seus projetos são imprescindíveis.

 

Projeto de Pe. Humberto chega há 13 anos, renovado, dinâmico, moderno e empreendedor.

É praticamente impossível falar de Vila Rosina sem citar, Pe. Humberto, o morador mais ilustre que o bairro já teve. Ordenado no dia 10 de junho de 1933, na Holanda, o religioso veio para o Brasil na década de 60. Aqui, compôs o clero dos monfortinos no bairro de Perus, zona Oeste da capital paulista, trabalhando como missionário nos bairros do Jardim Rincão e Parada de Taipas, locais em que construiu igrejas. Em 1979, veio morar em Caieiras, residindo no Portal das Laranjeiras, ajudando muito na construção da Igreja Santa Rita e em seguida construindo a igreja São Luis Maria Montfort no Portal das Laranjeiras. No mesmo ano passou a atender a comunidade de Vila Rosina.

Vendo a carência da população e profundamente preocupado com as questões sociais, Pe. Humberto servia refeições às famílias humildes do bairro. Foi também idealizador da escola Santuário de Vila Rosina, hoje chamada E.E. Isaura Valentini Hanser. Nessa escola, até hoje, é encontrada placa com o antigo nome da escola. Além disso, sempre manteve abertas as portas da casa na qual morava e onde inclusive funcionou o seminário propedêutico Imaculada Conceição.

Em 1982, começou a construção do Santuário Diocesano Virgem dos Pobres, cuja inauguração aconteceu no ano seguinte. O local é atualmente ponto de peregrinação de milhares de romeiros. Sem dúvidas, foi sua grande obra. Embora o trabalho missionário o tenha deixado muito feliz e edificado, o coração do padre monfortino sempre esteve enraizado na comunidade de Vila Rosina. Ele dizia com constância: “Aqui eu encontrei minha família” porque, apesar de todos os problemas, o povo de Vila Rosina é extremamente acolhedor. Esse tipo de atitude encanta qualquer estrangeiro e com o emissário de Deus não foi diferente.

Entrando na década de 2000, e Pe. Humberto já com idade avançada, deu início a um ousado projeto, a construção de um núcleo juvenil tendo como objetivo a assistência ética, profissional e espiritual dos adolescentes. Assim nascia a Associação Patris – Casa do Pai. Com esse ideal, a Associação Patris foi fundada oficialmente em 2004, no mesmo terreno do Santuário Virgem dos Pobres, ocupando uma área de 500m². O objetivo desta associação, de acordo com os ideais deixados pelo seu fundador, é oferecer aos jovens, formação profissional, assistência ética e espiritual. E de fato, nesses últimos 13 anos centenas de jovens já foram atendidos nos diversos cursos oferecidos gratuitamente.

O Patris tem uma nova diretoria, sendo o próprio Pe. Denis-Ricard o presidente que desde que assumiu ano passado, junto à nova equipe, vem trabalhando muito para aumentar o número de patrocinadores da Associação Patris, o que felizmente em ocorrendo, como é o caso da empresa Grupo Claro/Embratel e também Mascarello Advogados, os quais patrocinam os cursos oferecidos. Essas parcerias vêm proporcionando aos jovens oportunidades em processos seletivos do Jovem Aprendiz, que fizeram o Curso de Rotinas Administrativas, lecionado por Simone Faustino, professora e diretora da Casa do Pai, sendo que uma das jovens Sthepanie Januário dos Santos já foi contratada. Hoje, a Associação Patris está em busca de mais parceiros para ampliar o atendimento aos jovens tanto do bairro como de outras localidades. Até porque, o sonho do Pe. Humberto sempre foi deixar um sinal visível de sua missão, uma missão resumida na construção de seres humanos melhores.