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Uma das principais estruturas de fé da Igreja Católica encontra-se na crença real no Corpo e Sangue de Cristo presentes no altar, a Eucaristia. No entanto, a fé na Eucaristia é algo ainda complexo de se entender. Tanto que não faltam católicos fervorosos, ou até recém-formados nos cursos de catecismo, que recebem a comunhão crendo que a Eucaristia não passa de simples hóstia consagrada, que apenas simboliza o gesto realizado por Cristo na Última Ceia.

Para entender a fé eucarística, é necessário lembrar a angústia de Jesus ao enfrentar a morte na cruz. Como todos sabem, Jesus estaria voltando para o Pai, no entanto, era a vontade Dele permanecer junto às pessoas. Não de forma simbólica ou sentimental, mas física, real e visível, de maneira que todos os seres humanos pudessem vê-lo, tocá-lo, adorá-lo, senti-lo e recebê-lo.

E foi exatamente com esse desejo que “Jesus, na noite em que foi traído, tomou o pão e, depois de ter dado graças, partiu-o e disse: ‘Isto é o meu corpo, que é entregue por vós; fazei isto em memória de mim’. Do mesmo modo, depois de haver ceado, tomou também o cálice, dizendo: ‘Este cálice é a Nova Aliança no meu sangue; todas as vezes que o beberdes, fazei-o em memória de mim’.” (I Cor 11, 23-25). As suas palavras não podem ser mais transparentes.

“Isto” quer dizer “esta substância que tenho em minhas mãos é o meu próprio corpo”; “Este cálice” quer dizer o que está contido no cálice é meu sangue que sela a Nova Aliança”.

Mas não foi somente por meio destas palavras que toda a doutrina da Eucaristia foi construída. Nos livros de Mateus, Marcos e Lucas, os escritores eliminam todas as possíveis dúvidas a respeito do sentido real das palavras de Jesus (confira Mt 26, 26-28; Mc 14, 22-24; Lc 22, 19-20).

E no livro de João, Jesus é mais claro ainda. Em várias passagens do capítulo VI, repete inúmeras vezes o sentido real de suas palavras:

 

* “Eu sou o pão da vida”;

* “Eu sou o pão vivo que desceu do Céu”;

* “Quem comer desse pão viverá eternamente”;

* “minha carne é verdadeiramente uma comida e meu sangue é verdadeiramente uma bebida”;

* “aquele que comer da minha carne e beber do meu sangue permanece em mim e eu nele”.

* “Isto é  meu corpo” e “Isto é meu sangue…”.

Nesse ambiente, não existe o menor espaço para dúvidas. Os apóstolos tomaram as palavras de Jesus literalmente. De forma concreta, aceitaram como fato, não como símbolo. Tanto é que foi esse o ensino pregado por eles à igreja nascente (At 2, 42.46s; 20,7). Esta crença foi inquestionável durante 1500 anos por toda cristandade, espalhada pelos quatro cantos do mundo. Nem o próprio Martinho Lutero, fundador da primeira igreja protestante, no século XVI, rejeitou por completo a Eucaristia. Mas adubou um fértil terreno para inúmeros protestantes (evangélicos) se separarem definitivamente da crença original dos primeiros cristãos, fazendo do maior presente deixado pelo próprio Cristo – seu corpo e sangue em sacrifício pela humanidade – num simples “rito comemorativo da morte do Senhor”

Imaginar que a Eucaristia apenas simbolize o Corpo de Cristo é o mesmo que imaginar que todos os apóstolos, toda a cristandade primitiva, todos os mestres e doutores da Igreja, durante séculos, não entenderam o que Jesus quis dizer com “Isto é o meu corpo” e “este cálice é o meu sangue…”; é imaginar que Deus, em seu infinito amor, permitiu que bilhões e bilhões de católicos, durante séculos e séculos, morressem acreditando ter recebido o próprio Cristo quando, na verdade, fosse apenas um pedaço de pão simbólico sem nenhum valor. Ou seja, é imaginar que Deus permitiu que toda a humanidade cristã morresse na idolatria.

O fato é que o mundo mudou muito nestes últimos dois mil anos, porém em nada abalou uma das principais bases de sustentação da Igreja Católica que é a Eucaristia, o próprio Cristo, que nos une ao Seu Corpo. Ou, nas palavras de São Paulo: “Uma vez que há um único pão, nós, embora sendo muitos, formamos um só corpo, porque todos nós comungamos do mesmo pão.” (1 Cor 10,17).