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O Parque Pretória é mais um bairro segregado do município de Franco da Rocha, onde vivem cerca de 10 mil pessoas. Localizado na altura do quilômetro 44 da rodovia SP 023, a área começou a ser ocupada no início dos anos de 1990. Apesar de estar distante apenas a 1.5 Km da secretaria de infraestrutura do município, é nítido que o Pretória carece de infraestrutura básica como asfalto e rede de esgoto como já mostrou a reportagem da Rede Globo.

A rua Bem-Te-Vi, por exemplo, onde está localizada a Escola Estadual José Parada inaugurada em 2004, até hoje não foi asfaltada e pior, há notícias que sequer existe previsão de pavimentação asfáltica para o local. O esgoto nesta localidade corre a céu aberto e quando chove as ruas viram um lamaçal intransitável. A situação é tão dramática que os professores são obrigados a deixarem seus automóveis a pelo menos 600 metros de distância da escola em estacionamento privado, devido a calamidade em que se encontram as ruas adjacentes da unidade escolar. E pasmem, é comum a falta de água na escola, prejudicando por completo o trabalho pedagógico.

No entanto, em meio ao contraste de seu entorno, a escola do bairro é equipada com salas amplas, arejadas, limpas e bem conservadas. Até aquela ‘velha lousa para giz e apagador’ – retrato cruel de um sistema de ensino atrasado e falido-, foram extintas da escola José Parada há pelo menos cinco anos. Destaca-se também a facilidade existente para a utilização da sala de computadores, biblioteca e sala de multimídia. Os furtos e vandalismos tão comuns nas escolas da rede estadual, na Escola do Pretória, são raríssimos. A própria coordenadora pedagógica professora Kathleen Aires conta que ela mesma já perdeu o celular nas escadarias da unidade e um aluno o devolveu.

Mesmo com tantas dificuldades de acesso, a escola conseguiu formar um grupo docente que de fato vestiu a camisa da Educação. São professores vindos de várias cidades, muitos efetivos e outros com vasta experiência, os quais buscam na rede estadual, escolas onde a equipe pedagógica funciona, e que o trabalho do professor seja respeitado e valorizado, diferente também da maioria das escolas estaduais onde os professores mudam com frequência de uma escola para outra, na maioria das vezes, graças à incompetência gestora.

Na escola José Parada, todos os projetos são bem vindos, discutidos, questionados, na busca incansável de melhorá-los e aplicá-los na prática do cotidiano escolar, como é o exemplo do Projeto “Pia ecológica para descarte de óleo de cozinha”.

Esse projeto surgiu depois da percepção dos professores que o Parque Pretória está ao lado do Parque Estadual do Juqueri e é o primeiro e o principal bairro logo após a barragem da represa Paiva Castro a despejar seus dejetos no próprio rio Juqueri (veja o mapa). Esse rio margeia toda a área urbana de Franco da Rocha, recebendo todo o esgoto doméstico/industrial e cruza o município de Caieiras carregando forte odor  contribuindo diretamente com as enchentes na cidade dos Pinheirais.

Em Caieiras, o governo do Estado timidamente vem construindo uma estação de tratamento das águas do rio Juqueri, em Franco da Rocha o poder municipal permanece só no discurso, mas na escola José Parada a conscientização dos alunos com a poluição dos rios é intensa.

Segundo os professores que vêm pesquisando as causas da violenta destruição ambiental no bairro, chegou-se a uma conclusão que o principal agente é óleo de cozinha, que segundo inúmeras pesquisas científicas já publicadas, um único litro de óleo doméstico chega a contaminar um milhão de litros de água. Imagine a quantidade de óleo descartados dos lares de 10 mil moradores e esses dejetos sendo diuturnamente lançados nos rios. É simplesmente uma devastação ambiental crônica.

Desta forma, segundo o professor de Educação Física, Ronaldo Pinheiro Lima, o principal líder desse projeto “a Pia Ecológica surgiu de uma necessidade de facilitar a coleta do óleo de cozinha doméstico usado, impedindo que o mesmo seja despejado diretamente na rede de esgoto ou diretamente na natureza”. O professor de Geografia Leonardo Gomes é firme em afirmar que  “ o  óleo de cozinha usado chega também aos solos, tanto por meio das margens dos mananciais aquáticos quanto por meio do óleo descartado no lixo comum que acaba parando nos lixões”, e o professor de Biologia Leandro Luiz destaca que “o óleo contamina o solo e acaba sendo absorvido pelas plantas, prejudicando-as, além de afetar o metabolismo das bactérias e outros micro-organismos que fazem a deterioração de compostos orgânicos que se tornam nutrientes para o solo”.

Em sucessivas reuniões do corpo docente, os professores foram orientados a conscientizar os alunos do impacto ambiental provocado pelo óleo de cozinha, que ao infiltrar no solo polui os lençóis freáticos, torna o solo impermeável e, quando ocorrem as chuvas, contribui para o surgimento de enchentes, como ocorre na cidade vizinha Caieiras.  Além do solo e da água, lembram os professores, até mesmo a atmosfera acaba sendo poluída, porque a decomposição do óleo produz o gás metano (CH4), que é um gás do efeito estufa, ou seja, é capaz de reter o calor do sol na troposfera, o que aumenta o problema do aquecimento global.

A escola José Parada demonstrou na prática como pode ser simples evitar a contaminação do solo pelo óleo de cozinha, contribuindo imensamente com o meio ambiente, bastando apenas adaptar uma pia com um recipiente para a coleta do óleo (veja o projeto ao lado).  E não é só, os professores pretendem realizar um sistema de cadastro de coletas domiciliares, por meio de aplicativo que indicará quando houver necessidade de se retirar e realizar a troca do recipiente com o óleo usado, onde o morador poderá avisar a empresa responsável por esta coleta, ou mesmo agendar a entrega em um eco ponto.

Enquanto o Estado patina com suas ações ecológicas e poder municipal em Franco da Rocha nem isso, os professores fazem a diferença na escola José Parada.