Resumo:  A presente pesquisa resultou de uma entrevista com a advogada, Dra. Tania Shibata, profissional com vasta experiência na área do direito e como ex secretária da cultura no município de Caieiras. Além de ser também conhecedora de muitas culturas devido as viagens realizadas por diversos países, sobretudo, os da Europa. Desta forma, sua contribuição para se fazer entender sobre as reconhecidas Cidades Educadoras, trazendo um paralelo e comparação com a cidade de São Paulo e, principalmente Caieiras, foi de suma importância para a construção deste artigo, principalmente no que diz respeito a contextualização do  município de Caieiras como uma cidade da região metropolitana paulista, que tem potencial para caminhar rapidamente à desumanização, como é o caso de São Paulo, ou para tornar-se uma Cidade Educadora, como Paredes, na região metropolitana de Porto, em Portugal. A qual é hoje, referência para o mundo no quesito Educação e Cultura.

Palavras chaves: Educação, Cultura, Cidade

Summary: This research resulted from an interview with the lawyer, Dr. Tania Shibata, a professional with extensive experience in the area of law and as secretary of culture in Caieiras. In addition to being knowledgeable of many cultures due to trips made by various countries, especially those in Europe. Thus, his contribution to make known about the recognized Educating Cities, bringing a parallel and comparison with the city of São Paulo and, especially Caieiras, was extremely important for the construction of this article, especially with regard to the contextualization of the city. de Caieiras as a city in the metropolitan region of São Paulo, which has the potential to quickly move towards dehumanization, such as São Paulo, or to become an Educating City, like Paredes, in the metropolitan region of Porto, in Portugal. Which today is a reference for the world in the Education and Culture.

Keywords: Education, Culture, City

 

Por que Dra. Tania Shibata?

Em janeiro de 2009 a advogada Dra. Tania Shibata foi nomeada pelo então prefeito recém-eleito do município Caieiras, Dr. Roberto Hamamoto, como a nova Secretária da Cultura. Esta nomeação foi vista pela classe política da cidade como uma grande vitória do chefe do executivo caieirense visto que, Hamamoto havia convencido a mais renomada advogada da região para um setor estratégico de seu governo. Haja vista, a nova Secretária Municipal é a mesma que foi por 7 anos, Diretora da Subsecretaria da 6ª Turma do Tribunal Regional Federal da 3ª Região, no bairro da Bela Vista em São Paulo, já sendo reconhecida em Caieiras, como a maior especialista em direito tributário que os careirenses tinham notícia.

Figura 1 – Dra. Tania e seu esposo Dr. Américo Lacombe em um jantar entre amigos no palácio do Jaburu com a família Temer em outubro de 2017 | Fonte: Tania Shibata (arquivo pessoal).

Como profissional do direito, Dra. Tania já contava com um grande escritório de advocacia na Avenida Paulista e uma filial em Brasília. Seus clientes, além de grandes políticos, eram também empresas como a Universidade de Marília, Varig, Rádio Jovem Pan, Vigor, Athina Onassis entre outros. Além disso, estava (está) casada há mais de 25 anos (35 anos agora) com o jurista, desembargador federal inativo e na época, presidente da Comissão de Ética do Governo Federal, Dr. Américo Lacombe.

Como ativista política, Dra. Tania era presidente do Partido Verde de Caieiras e coordenadora da Bacia 7[1] sendo portanto, muito influente nos municípios[2] da Sub Região Norte da Grande São Paulo, que contava com 8 vereadores verdes, tendo inclusive, dois prefeitos eleitos pelo PV em Francisco Morato e Mairiporã. Para o prefeito de Caieiras, a advogada era portanto, um troféu para seu início de governo.

De minha parte, por ser professor e jornalista, autor de um dos três livros sobre Caieiras e possuidor de um dos quatro jornais na cidade, não conseguia entender na época, como uma renomada advogada com um grande capital social, político e econômico, aceitou ser Secretária em um pequeno município da região metropolitana paulista, sendo que o tamanho político de uma Secretária nesse município, não acrescentaria em nada em seu capital social, político e econômico, pelo contrário, poderia até apequená-la. Mas isso eu só fui entender muito tempo depois.

Apesar de ter como primeira profissão o exercício do magistério, minha grande satisfação sempre esteve no trabalho com as publicações impressas que até hoje realizo, as quais exigem de mim, bom diálogo com a Diretoria de Ensino da Região de Caieiras, a qual abarca cinco municípios da Sub-Região Norte da Grande São Paulo. Com isso, na época, ao ver os resultados das publicações, passo a passo a Secretaria da Cultura foi se aproximando das unidades escolares estaduais, aumentando assim as publicações dos fatos que envolviam a Cultura e a Educação.

Pelos anos que vieram, meu trabalho continuou sendo lecionar e registrar fatos em formato jornalístico, em sua maioria de cunho educativo, cultural e político, ocupando assim, um espaço midiático onde outros veículos de comunicação pouco entravam. Para tanto, uma grande rede de empresários financiava o jornal Nosso Bairro por meio de veiculação de publicidades, garantindo sua periodicidade e ao mesmo tempo aumentando sua credibilidade perante os leitores. Não tardou, e a ponte entre a Diretoria de Ensino com a Secretaria da Cultura, me aproximou de Shibata, que tornou-se uma amiga a qual sempre me apoiou nos projetos junto às escolas e também na Igreja católica do bairro de Vila Rosina. Não foi uma, nem duas, nem vinte vezes que solicitei ônibus para levar alunos para atividades extracurriculares, espaços para eventos pedagógicos, apoio estrutural para as escolas. Nunca recebi um “não” como resposta.

O que sempre me chamou atenção em Shibata, não foi o status, até porque, nunca vi ostentação de sua parte, mas sim a paixão pelo ser humano presente nas escolas e, curiosamente, nas igrejas. Digo curiosamente, porque também não entendia o porquê das igrejas terem tamanho apoio político e agendas públicas para seus eventos, onde qualquer líder religioso de qual grupo fosse, que apresentasse um trabalho com grande significado social, sempre recebia atendimento diferenciado na Secretaria da Cultura.

Agora, passados mais de 10 anos, tenho a honra de apresentar um artigo fundamentado numa entrevista filmada e transcrita (em anexo) de uma personalidade que fez história em Caieiras. Uma entrevista sem um questionário pré-formulado, que engessasse ou direcionasse as respostas da entrevistada. Sua realização foi num lugar de escolha da própria entrevistada, de modo que a mesma se sentisse o mais confortável possível. Ou seja, na espaçosa sala de seu duplex de 500 m² no último andar de um edifício nobre, na Alameda Franca, na Bela Vista em SP.

Figura 2 – A entrevista (09/06/2019)

Mesmo a conhecendo por tantos anos, somente agora, me debruçando sobre o conteúdo da entrevista, é que fui entender Tania Shibata e seu olhar para a cidade por meio da relação com a política, cultura, educação e religião. Confesso que fiquei pasmado com suas colocações, que me fizeram refletir profundamente sobre o valor dos movimentos religiosos nos bairros para a vida da comunidade escolar e para a construção de uma sociedade mais fraterna.

Com a realização dessa pesquisa, não posso negar que fiquei encantado com uma pessoa que é uma legítima representante da alta classe da elite paulistana, mas que diferente do próprio grupo elitizado a qual pertence, seu status é a soma do capital social, político, econômico e cultural, que de forma peculiar impõe respeito a qualquer brasileiro, que de forma fraterna, buscou numa cidade como Caieiras, fortalecer a fraternidade entre as pessoas por meio da cultura, da educação e dos valores religiosos.

 

Cidade desumana… mas do trabalho

A capital paulista é para a nossa entrevistada Dra. Tania Shibata, uma cidade vocacionada para o trabalho, onde tudo se movimenta para a “caça”[3] do dinheiro a qualquer custo. Certamente, o cidadão que fez a opção por viver em uma cidade com mais de 12 milhões[4] de pessoas espremidas em 1.500 Km², responsável direto por 11,5% do PIB nacional[5], o que significa uma potência econômica maior que os sete estados da Região Norte juntos, certamente não está em busca de paz e tranquilidade para a prática afetiva das relações sociais harmoniosas.

Por esta ótica, despossuído de romantismo utópico, resta a cidade do estado mais rico da federação e a 10ª mais rica do mundo, ser o que é: um lugar de stress, de correria, de trânsito caótico, dos transportes coletivos lotados, das calçadas tumultuadas, do barulho, da poluição, da sujeira, da periferia degradada, segregada, marginalizada e violenta. Uma cidade que vive em função do relógio, com único objetivo: o dinheiro.

Para quem se locomove por São Paulo da casa para o trabalho, encontra muitas dificuldades nos transportes públicos, trânsito muito carregado, muito barulho, muita poluição. A loucura dessa cidade é incompreensível, parece que tudo gira em torno da correria frenética para a busca de dinheiro a qualquer custo.   Em São Paulo parece que o sentido de vida das pessoas é caçar dinheiro, fazendo desse lugar, um lugar desumano[6].

Alguns boêmios[7] podem se posicionar contrariamente a Shibata, podem até rebater apontando uma suposta humanização existente na cidade paulistana, relacionando com os casos das rarefeitas oportunidades que algum privilegiado tem de gozar o prazer por meio de um passeio em um dos poucos parques da cidade, ou nos poucos museus, ou num bar qualquer de esquina, ou mesmo num churrasco numa laje (isso quando se tem laje). Essas poucas práticas de convívio social humanizado, estão longe de qualquer ameaça que possa desconfigurar a vocação da cidade de São Paulo como um lugar de exercício da desumanização por meio da busca “frenética” por “dinheiro a qualquer custo”.

Para deixar claro a relação do dinheiro com a irracionalidade humana que pretendo esclarecer neste artigo, vou tratar o dinheiro, aqui – assim como Le Goff (2010) – como um “personagem” que dá sentido à modernidade, que era só um nascente personagem na época medieval[8] e que nem sonhava em nascer na passagem do paleolítico para o neolítico quando ocorreu a grande ruptura do homem como um animal irracional para o ser (humano) racional.

O homem da revolução agrícola[9], despossuído do “personagem dinheiro”, simplesmente abarcou a paisagem com a visão e tomou como posse todo o horizonte com seus:  montes, vales, rios, pradarias e florestas, foi transformado em um lugar de exercício de poder[10], onde o homem passou a trabalhar nele, produzir e colher o fruto do seu trabalho. Curiosamente, o homem, desde muito cedo aprendeu que o mundo aberto era perigoso, e para se manter distante dos perigos, cercou-se em muralhas cada mais altas, que logo se tornaram cada vez mais próximas, até chegar do outro lado da rua, característica comum das cidades contemporâneas.

Os muros nas cidades são produtos do reflexo do medo que movimenta a busca de proteção para a vida e para o fruto do trabalho.  O sentimento de medo, a necessidade do trabalho, a ideia da posse mudou as cidades existentes por todo planeta, fazendo com que cada cidade se tornasse dona de uma história única, de culturas diferentes, de vocações distintas, de formatos arquitetônicos complexos, mas todas são produtos da construção social, que de forma peculiar, ocupam espaços geográficos e são objetos transformadores da paisagem.

A cidade de São Paulo impõe a única opção que é o trabalho, se você quer uma outra opção de vida, obviamente que a cidade de São Paulo vai te negar, porque ela vai impor a vida frenética, essa vida, sabe, de você ter que ir, ter que acompanhar a loucura, ser empurrado. Por isso, mesmo que você não queira, só por estar aqui você é obrigado a se movimentar[11].

Certamente São Paulo não nasceu com a vocação “frenética para a busca de dinheiro a qualquer custo” mas, semelhante a revolução agrícola que é na história o ponto final da ruptura do homem caçador e coletor para o produtor e agricultor, a revolução industrial do séc. XVIII é fim do homem agrário para o novo homem industrial, é o nascer do homem que não mais enxerga na terra o dinheiro, e sim a máquina que produz o dinheiro e que precisa fazer circular a riqueza produzida.

O homem da capital paulista é aquele que a partir da ruptura da “vocação caipira”[12]paulistana se tornará com implantação da ferrovia um caçador de dinheiro a qualquer custo, o qual contribuirá para o agigantamento da metrópole paulistana movendo a produção de uma cidade a outra contribuindo para o enriquecendo da nação. Pelo movimento das estradas de ferro, entendemos o fenômeno da conversão do pequeno vilarejo soerguido numa colina no vasto planalto de Piratininga escondido de toda a civilização do século XVI, para a “cidade trimilionária”[13] , que conhecemos hoje.

 

A desumanização vem pelo trem

É pela ferrovia da Raiway Company popularmente chamada de a “Ingleza” (com ‘Z’)[14], que São Paulo passou a se movimentar “freneticamente” transportando café do interior do estado com partida na cidade de Jundiaí até Santos, no litoral paulista. Neste trajeto ferroviário pequenos núcleos estações[15] surgiram e com eles povoados nasceram, cresceram e tornou-se centro de ligações para outras regiões periféricas[16] caracterizado por Langenbuch (1971), de “povoados-estações” era portanto, o “início da metropolização” ou “A expansão propriamente urbana de São Paulo”[17].

As ferrovias conferiram às faixas por elas servidas uma vocação suburbana, por ora apenas incipiente, e às estações ferroviárias uma vocação de polarização da industrialização e do povoamento suburbano. Os “povoados-estação” seriam os “embriões” de importantes núcleos suburbanos da atualidade[18].

Um dos principais poetas brasileiros, Guilherme de Almeida, membro da academia brasileira de letras, morto em 1969, em seu livro Cosmópolis, definiu São Paulo no início do século XX como “um resumo do mundo”. Isto porque, na década de 1920, a capital do estado paulista contava com mais de meio milhão de habitantes, em sua massiva maioria, imigrantes vindos de várias partes do mundo.  Esse número, no entanto, pode não parecer muita coisa para quem vislumbra o presente e nasceu inserido na magnitude de uma hipermetropole[19] com mais de 12 milhões de pessoas. Mas a população quinquagenária de 1920 que viveu no final do Império e lembra dos primeiros trilhos assentados pela Ingleza, lembra da pacata população paulistana tropeira[20] a qual assistiu o nascimento da  República junto com  parcos 64.934 mil habitantes e viu em 1900 a ostentação dessa cidade já com 239.820 mil vidas se relacionando “freneticamente” com as indústrias dos bairros industriais e da periferização nos arredores da área central da cidade, entende a frase: “um resumo do mundo”, do poeta Guilherme de Almeida, fazendo dessa cidade um lugar de movimento, de correria frenética, que mesmo que o cidadão não queira, a advogada Tania Shibata vai dizer:  “só por estar aqui (ele) é obrigado a se movimentar”

Anos                        Habitantes

1890…………………………….64.934

1900…………………………..239.820

1920……………………………579.033

1940………………………….1.318.539

1950…………………..2.198.096 [21]

São Paulo que se agigantou em poucas décadas, passou a se orgulhar em ser a cidade que bradava em sua bandeira “Não sou conduzido, conduzo”[22], simbolizando a valorização e a independência das ações desenvolvidas pela cidade e seu papel de liderança no Estado e no país como terra do trabalho e das oportunidades que movimentava – por meio do trem – as riquezas do Brasil.

No entanto, a falta de infraestrutura nos arredores da capital paulista não acompanhava o rápido crescimento populacional de São Paulo, gerando por consequência graves problemas, dentre os quais: precariedade nos serviços de transporte coletivo; saúde e educação; aumento significativo do número de desempregados, que por consequência resultou em degradação ambiental; e a falta de moradia, obrigando as pessoas a ocuparem áreas de risco, contribuindo para o fenômeno da “favelização”[23] como um lugar onde o Estado não se instalou[24].

Figura 3 – Carta das Estradas de Ferro da Província de São Paulo. Nota-se que todas as ferrovias de uma forma ou outra desembocam em seus trilhos da SPR. (Coleção Arte Cultura vol. VI.) São Paulo, Banco Sudameris, 1983. p. 59. | Fonte: SOUKEF, 2008, p. 104.

Os últimos 50 anos resume-se a somatória de “crise econômica + arrocho salarial + desemprego” o que resultou em mais ocupações de áreas irregulares, fundos de vales e de encostas íngremes que foram ocupadas por um contingenciamento de despossuídos de moradias[25],os quais, em comunidade, levantavam seus barracos com refugo de material de outras construções, como lembra Shibata “as condições de moradias nas periferias por exemplo são ruins, muito aglomeradas, não há espaço para lazer, o lazer é em cima da laje, quando se tem uma laje”[26]. Por uma questão de sobrevivência, esses moradores necessitando estar próximo à área de trabalho, portanto, do dinheiro, aceitaram a condição imposta pela capital, vivendo apinhados em seus barracos em condições desumanas e mesmo os mais privilegiados vivem em pequenos apartamentos, ou em pequenas moradias fortificadas, com pouco ou nenhum espaço para se movimentar.

 

Uma cidade de paisagem humanizada, mas… próxima do dinheiro da cidade desumana

Caieiras é um município de 96 Km² com cerca de 100 mil habitantes[27] localizado na Subregião Norte da Região Metropolitana de São Paulo, tendo ao Sul a capital paulista, ao Norte o município de Franco da Rocha, a Leste, Mairiporã e a Oeste, Cajamar. Apenas este último limite é uma geodésica (um meridiano); os demais aproveitam cursos d’agua ou linhas de cumeada.

A paisagem do município de Caieiras é “marcada pelo seu relevo acidentado, constituindo uma sucessão de morros abruptos comuns a quase toda a área que circunda a capital paulista”[28].  Quando se observa a cidade por uma perspectiva aérea, constata-se um mosaico de núcleos urbanos separados por eucaliptos, pinheiros, mata Atlântica, propriedades agrícolas, áreas desmatadas, além de estradas e caminhos vicinais que tradicionalmente servem de apoio para a colheita de eucaliptos. É importante frisar que a paisagem caieirense tem por característica a presença de espécie de eucaliptos plantada nos anos de 1950 pela Companhia Melhoramentos para a produção de papel destinada ao mercado nacional, que por todo século XX, esta empresa papeleira esteve vinculada com o processo de ocupação do espaço territorial chegando hoje a ocupar ainda 50% do território caieirense.

A plantação de eucaliptos em território caieirense com forte presença de florestas secundárias[29] é a principal marca da paisagem do município que pode ser facilmente percebível por qualquer viajante que parte de São Paulo pela estrada de ferro pelo trecho da linha Rubi[30] sentido interior ou mesmo pela rodovia SP 332 que ambos os trajetos “seguem um curso mais ou menos paralelo cruzando-se junto a estação de Caieiras, em sentido Norte/Sul”[31].

Os bairros estão distantes uns dos outros, principalmente do lado direito da linha férrea sentido São Paulo-Jundiaí o que dificulta o acesso da população residente aos recursos básicos (pronto socorro, postos de saúde e comércios) e contribui para que não haja um centro comercial dinâmico em Caieiras. Ainda se tomando como referência a linha férrea, os bairros localizados a sua esquerda (lado oposto do centro) estão mais próximos uns dos outros, incluindo bairros conurbados[32] entre si, mas distantes de outras regiões urbanizadas.

Se por um lado a periferia norte de São Paulo é apreciada pelo viajante como um imenso e contínuo bloco urbano maciço e acinzentado, com manchas verdes esparsas numa paisagem de concretude mórbida. Ao adentrar no trecho onde está localizado o município de Caieiras, a cerca de 28 Km do centro da capital paulista é possível perceber o grande contraste paisagístico de uma região para outra, uma cidade como lembra a entrevistada com “um jeitinho de cidade do interior, com muito verde, os bairros com jeito de vilas, as ruas bem cuidadas, pessoas conversavam, se conheciam, as crianças corriam de um lado pro outro, empinando pipa, jogando bola”, no começo dos anos 2000 “nem semáforo tinha na parte central da cidade e tudo muito perto de São Paulo”[33].

Este contraste é o que atrai em primeiro momento, centenas de moradores da metrópole paulistana que buscam condomínios fechados com relativa segurança próximo à estação ferroviária de Caieiras, ou com opção ainda, de maior distância, na serra da Cantareira na porção Leste do município, relacionando a um  lugar como São Paulo que faz o cidadão correr o tempo  todo “para um lugar que oferecia qualidade de vida e ainda próximo do local de trabalho.[34], a rigor, uma tranquilidade interiorana localizada na região metropolitana, próxima da acelerada movimentação cotidiana da capital paulista.

 

Identidades e pertencimentos:  a Cultura nos bairros parceira da Educação para a cidade

Por exemplo, o morador da Vila Rosina, tem consciência que ali é Vila Rosina, um bairro bem pequeno, um lugar separado de tudo. O Jardim Aparecida também está separado de todo mundo, está distante de Laranjeiras e mais distante ainda do Morro Grande. O Morro Grande está bem distante de Santa Inês e assim por diante. Eu vejo que esse distanciamento entre os bairros desperta um sentimento de pertencimento específico nas pessoas de cada bairro. Diferente de São Paulo que tudo é uma coisa só, junto e misturado, sem começo e nem fim. As pessoas identificam nos bairros de São Paulo distantes do centro, como moradores da periferia. Os moradores de Caieiras parecem que não têm essa ideia de periferia, eles têm essa consciência de pertencer a um bairro, está me entendendo? [35]

Os bairros do município de Caieiras podem ser divididos em dois grupos: o primeiro grupo são os bairros localizados do lado direito da linha férrea sentido São Paulo-Jundiaí. São eles: Vila Rosina, Laranjeiras, Morro Grande e Santa Inês. Os outros localizados a sua esquerda da ferrovia (lado oposto do centro) estão mais próximos uns dos outros. São nesses bairros,  Serpa e Vera Tereza, e no espaço entre eles, que pode ser encontrada uma pequena conurbação[36] entre vilas. Trata-se de uma antiga área de ocupação (Vila Operária)[37], originando as vilas: São João; Jardim Boa Vista; Vila Miraval; Vila Gertrudes; Jardim Vitória; Jardim dos Eucaliptos; Jardim Marcelino; Vila dos Pinheiros 1 e 2; e Jardim Monte Alegre.  É nesse lado da cidade que se percebe uma maior concentração populacional.

Os bairros periféricos de Caieiras encontram-se afastados do núcleo urbano central por terras da Cia Melhoramentos e florestas nativas, como a região do Vera Tereza, Laranjeiras, Vila Rosina e até mesmo  Santa  Inês,  cuja  formação de  núcleos  urbanos  separados gera a formação de regiões das cidades que se caracterizam por vidas locais; quem mora no centro terá seu dia-a-dia diferente daqueles que moram em setores da periferia ou daqueles que moram em subcentros, ou ainda daqueles que moram nas áreas com concentração de estabelecimentos industriais, e assim por diante[38].  

Logo, não é de se estranhar que os moradores de bairros periféricos, passam a procurar  opções de lazer e  negócios distante da área central e de maneiras diferenciadas, como por exemplo, a maioria dos moradores de Vila Rosina, procuram opções de lazer e negócios junto aos bairros paulistanos de Perus ou ainda os moradores da região do bairro de Vera Tereza  se dirigem a Franco da Rocha e Francisco Morato, enquanto os moradores de Santa Inês se dirigem para  Santana (bairro da capital paulista)  ou ainda para Mairiporã, beneficiado por linhas de ônibus, os  moradores do bairro Calcárea, que têm suas vidas atreladas ao município estritamente relacionado com Cajamar, enquanto a área central do município de Caieiras, permanece isolada de todos os bairros e até distante da estação ferroviária, o que vem contribuir  decisivamente para que o centro da cidade não tenha um núcleo comercial dinâmico.

Esse fato pode ser visto pelo visível fracasso das festividades promovidas pelo Centro Cultural, na tentativa de atrair jovens de outros bairros para área central do município. Os jovens da periferia, não se identificam com um local aburguesado como é o centro de Caieiras.

Com isso, podemos deduzir um sentimento de vizinhança, um sentimento de pertencimento a um determinado lugar e de tal modo que “os moradores dos bairros, sentem como se fossem o próprio bairro, com gostos diferentes”.

Figura 4 – Com núcleos urbanos separados, os bairros de Caieiras mantêm relação com outras cidades conservando o centro de Caieiras, ainda em relativo isolamento, despertando um “sentimento bairrista”. | Fonte: Revista Cidade Educadora.

Pertencimento e identidade são conceitos definidos na tese de doutorado de Rogério Ribeiro Jorge (2009) “Território, identidade e desenvolvimento: uma outra leitura dos arranjos produtivos locais de serviços no rural”[39] ,   neste trabalho, o autor afirma que a identidade é o “resultado de um trabalho permanente de renovável construção social e política, mas também geográfica, que leva em conta a extrema mobilidade dos agentes sociais”[40]. Seguido por Dr. Joan Subirats, o qual no livro “Cidade como projeto Educativo” (2003), afirma que pertencimento significa: “sentir-se parte de, e uma pessoa faz parte de, porque nasceu nesse contexto ou porque escolheu essa opção. Nesse sentido, implica ‘sentir-se com’, compartilhar, ter relações sociais significativas, poder usar um ‘nós’” [41].

A formação e afirmação de identidades de sentimento e pertencimento é para Subirats (2003), Oliveira (2004) e Jorge, (2009) uma construção de vivência com o lugar, o qual ao longo da vida as pessoas compartilham do círculo de amizades, seja na vizinhança, na escola ou até nas comunidades religiosas.

Sobre a identidade, Jorge (2009), alega ainda que o território traduzido como o espaço físico de vivência e relação é fundamental para a formação e afirmação de identidades, tornando-se o elo comum de identificação das pessoas de um ambiente sempre carregado de aspectos subjetivos e simbólicos. Esta identidade apresenta “estreita relação com a ideia de apropriação, que, neste caso, não se dá exclusivamente de forma individual. Os grupos e lugares onde se encontram muitas vezes estão de tal forma imbricados que não é mais possível distingui-lo”[42].

Subirats (2003), lembra que:

Uma pessoa sente-se comunidade se consegue envolver-se. Uma pessoa sente-se comunidade se pode participar. Uma pessoa sente-se comunidade se está conectada. Envolvimento, participação e conexão são, sem dúvida alguma, fatores que ajudam a criar a comunidade, a criar sentimento de pertencimento. Envolvimento que permite passar da apatia para a mobilização, da delegação e da dependência para a atividade e a disponibilidade para assumir compromissos e riscos. Participação que pressupõe a capacidade de utilizar os próprios recursos, os próprios poderes, exercendo a capacidade de decidir e controlar. Mas tanto o envolvimento quanto a participação precisam dos elementos prévios que os facilitem, como a criação e a existência de conexão entre pessoas e entre grupos presentes na comunidade. E para isso, é imprescindível que se reconheçam interesses comuns e complementares. Além disso, seria importante que surgisse certa identificação entre os que compartilham tais valores e os que defendem uma mesma ideia de responsabilidade social, que dizem existir algumas determinadas capacidades e competências e que têm a consciência do próprio poder: responsabilidade social para assumir as coisas que são tarefas de todos; poder como condição para mudar as coisas, como possibilidade de fazê-lo[43]

 

Pela Cultura, em busca de uma Cidade Educadora

Pelos 20 princípios estabelecidos na Carta das Cidades Educadoras referenciada no 1º Congresso Internacional das Cidades Educadoras, que teve lugar em Barcelona em novembro de 1990 e suas abordagens adaptadas em Gênova em 2004, Caieiras não pode ser considerada uma Cidade Educadora, e até o momento, não se tem conhecimento de projetos impactantes no sentido de mudanças em sua tradição educativa. No máximo, as ações educativas em Caieiras, aproximam-se de alguns exemplos de educação ambiental, ou seja, como ensinar os cidadãos a não jogar lixo na rua e a cuidar do ambiente, práticas cotidianas comuns semelhantes a qualquer cidade que contem educação, mas não é uma cidade voltada par a educação.

Em 2011, com apoio da Secretaria da Cultura foi dado início ao projeto da Secretaria da Educação “Redescobrindo Caieiras”, a partir da iniciativa dos alunos da EMEF Aurora Rodrigues, no Jardim Vitória. Na época, os alunos pediram para que o professor Marco Dártora, representante das famílias tradicionais da cidade, visitasse a unidade escolar e lhes contasse sobre a formação da Cidade dos Pinheirais pela ótica dos imigrantes italianos que vieram para trabalhar na empresa papeleira de Caieiras. Dártora abordou o cotidiano dos imigrantes nas vilas operárias, o crescimento geográfico e demográfico e a formação da cidade a partir do bairro do Cresciuma, além de outras informações relevantes sobre as origens do município.

O projeto “Redescobrindo Caieiras” foi desenvolvido por todo o segundo mandato do então prefeito da época, Dr. Roberto Hamamoto, chegando no mês de abril de 2016 com todos os alunos da rede, contemplados com o projeto, como aponta o jornal Nosso Bairro ed. 234.

A Secretaria da Educação com o projeto “Redescobrindo Caieiras” se encontrou com um outro grande projeto que era o “Bairro Multicultural” cujo objetivo era levar a cultura clássica erudita para os bairros, confrontando a “cultura Funkeira”. E logo, o projeto “Semana do Bem” da Secretaria da Cultura, a qual recebeu apoio da Diretoria de Ensino da região de Caieiras que abria as portas das escolas estaduais para as Secretarias do Município, para levar uma “mensagem do bem” num período que antecedia a grande apresentação do espetáculo Paixão de Cristo, um evento tradicional da cidade, com encenação de quase uma centena de atores ao ar livre realizado no estádio de futebol no centro da cidade.  A “Semana do Bem” foi um grande projeto, atendia todo ano cerca de 20 escolas com mais de 10 mil alunos com temas centrais como, bullying, racismo, drogas, prostituição infantil, tendo como pano de fundo a filosofia cristã.

Eu vejo a escola como uma instituição com boas intenções, mas que se depara com as atitudes comportamentais dos jovens, que nem sempre contribui para que a escola consiga devolver para o mercado de trabalho, jovens bem formados. Um exemplo são os que fazem opção por levar ao ambiente escolar, músicas que fazem apologia à criminalidade, sexo, drogas e violência, fazendo eles acreditarem que o mundo é isso.

Essa foi uma das razões que fez a gente desenvolver na Secretaria da Cultura, a “semana do bem” que na verdade não foi uma única semana, foram várias semanas que antecediam a semana santa, onde era realizado nas escolas: teatros, shows, palestras sempre com uma mensagem boa. Tentando mostrar um outro lado daqueles que a cultura funkeira nos bairros costuma mostrar.

Por quase um mês a secretaria ficava mobilizada de manhã até a noite para conviver com os alunos em pelo menos 20 escolas do município, em todos os bairros, porque nós acreditávamos no projeto, na ideia de, por meio da cultura, fazer o bem para as pessoas, e dessa forma a cultura do bem foi um mecanismo de apoio para o trabalho da escola. Esse projeto foi tão gratificante que muitos alunos foram atingidos, alguns largaram as drogas, a violência, encontrando um sentido para suas vidas. Foi divertido, prazeroso e de muita experiência. Foi um trabalho onde eu me senti realizada em fazer para a comunidade, pois o propósito foi esse quando eu fui para atuar na Secretaria da Cultura.[44]

Por várias semanas as escolas da rede pública estadual, como também nas dependências do Centro Cultural os alunos do curso de teatro do CECIN[45] encenavam peças teatrais, dinâmicas, músicas com objetivo de desenvolver o exercício de boas ações, levando às escolas mais que atrações, e sim, reflexões da forma de tratamento interpessoal.

A secretaria da Cultura entre 2009 e 2016, sempre se mostrou simpática a inúmeros projetos que caminhavam no sentido da formação humana nos bairros, uma espécie de formação da ideia sobre os valores humanos dos pioneiros de Caieiras.  As religiões tão marcantes nos bairros sempre estiveram muito próximas da secretaria da Cultura.  Desta forma, o movimento religioso passou a receber amplo apoio durante o período que Dra. Tania Shibata esteve à frente da secretaria, explicando:

A situação das escolas e os trabalhos das instituições religiosas nos bairros de resgate de vida através do sagrado, foi uma motivação! E digo isso, porque a cultura desse Funk profano é muito perniciosa para aqueles jovens que a família confia que a escola é um lugar de mudança de vida, mas que ao se depararem com os excessos de críticas às suas religiões, principalmente vindas de seus professores ateus, acabam sem rumo, desistindo de sua fé e muitas vezes embarcando em comportamentos totalmente contrários ao que acreditavam antes. Nesse momento você perde aquele aluno que tem a referência na Igreja para a cultura funkeira que tem como referência, a droga, a prostituição, a criminalidade.

Assim, eu sou espírita, na minha religião a gente aprende que nossa vida é conduzida por ações e escolhas que são tomadas a partir dos nossos valores. A pessoa que sou hoje, devo muito a minha tradição religiosa. Um professor que sonha com uma sociedade sem valores religiosos, vai criticar os valores dos espíritas, dos evangélicos, dos católicos, dos judeus, assim por diante. A escola que recebe alunos de famílias religiosas, deveria ver as religiões como parceiras muito próximas da educação.[46]

Por uma questão prática, Dra Tania observou que a força de uma Secretaria da Cultura poderia contribuir significativamente para a melhoria da Educação, da formação, da construção de seres humanos, o que naturalmente se enquadrou no princípio 13 da carta de Barcelona:

O município deverá avaliar o impacto das ofertas culturais, recreativas, informativas, publicitárias ou de outro tipo e as realidades que as crianças e jovens recebem sem qualquer intermediário. Neste caso, deverá empreender, sem dirigismos, ações com uma explicação ou interpretações razoáveis. Vigiará a que se estabeleça um equilíbrio entre a necessidade de proteção e a autonomia necessária à descoberta. Oferecerá, igualmente, espaços de formação e de debate, incluindo os intercâmbios entre cidades, para que todos os seus habitantes possam assumir plenamente as inovações que elas geram[47].

Os bairros de Caieiras passaram, portanto, a serem vistos como um grande laboratório de experiências educativas. E a escola do bairro, por sua vez, passou – pela experiência de “fazer o bem” a ser o elemento mobilizador, a partir do qual se cria uma rede cidadã pronta a trocar conhecimentos e valores; a ensinar e, ao mesmo tempo, aprender os valores dos impactos culturais por meio da recreação e da informação.

 

Paredes, uma Cidade Educadora em Portugal, um modelo para Caieiras

O caminho de Porto sentido Paredes, tem a paisagem que lembra bem Caieiras com seus pinheiros e montanhas e aquela sensação de tranquilidade, de quem está saindo de um lugar intenso para um lugar mais tranquilo. Como disse, não que Porto seja intenso, Porto é bem diferente de São Paulo, que respira dinheiro, enquanto lá se respira cultura, são coisas bem diferentes, mas o que quero dizer é a sensação de tranquilidade que a paisagem provoca na gente.  A cidade em si, é assim, bem tranquila, segura, muito limpa e as pessoas muito educadas.[48]

A cidade de Paredes em Portugal, faz parte da região metropolitana da cidade de Porto, distante cerca de 30 Km, classificada ainda como zona rural da região norte de Portugal, com colinas espacejadas de pinheiros e carregadas de plantações de uvas e melões. Sua origem remonta o ano de 1269 d.C, sendo a data confirmada por D. João I. Semelhante a tantas outras freguesias europeias, Paredes conheceu um grande avanço com a revolução industrial quando a cidade passou a ter na indústria sua principal fonte de economia já que sua floresta oferecia diferentes espécies como matéria prima para a indústria.

Paredes possui uma comunidade educativa que beira os 15 mil alunos, sendo uma das  487 cidades educadoras no mundo, que acreditam que as cidades são por si próprias, geradoras de educação para os seus habitantes, contendo nelas os próprios elementos fundamentais para uma formação integral dos seus habitantes.

Uma cidade educadora acredita na política pública como um eficiente meio para aplicar a política educativa com carácter transversal e inovador, abarcando todas as modalidades educativas, sejam elas formal ou informal, assim como as diferentes manifestações culturais e fontes de informação.

A cidade portuguesa defende essa crença e por isso apresentou publicamente em 11 de julho de 2017, na Casa da Cultura de Paredes o PEEM (Plano Estratégico Educativo Municipal de Paredes) [49]que visa a definição da política de educação para os próximos cinco anos, com um investimento sem precedentes nas infraestruturas educativas por parte da Câmara Municipal de Paredes, visando a renovação completa do seu quadro escolar. O foco principal é no 1.º ciclo e da pré‑escolar, alinhando com as estratégias da política local de educação na sua dimensão mais imaterial.

O Plano Estratégico apresenta quatro eixos norteadores, o primeiro passa pela promoção do sucesso educativo e pela prevenção do abandono escolar precoce. O segundo eixo aposta na valorização dos serviços e dos recursos educativos através da criatividade e da inovação. O terceiro eixo define os instrumentos para a cooperação institucional. Por último, o eixo 4 preconiza a qualificação e a formação ao longo da vida ‑ formação parental e qualificação da população adulta. O PEEM resulta de um trabalho desenvolvido por uma ampla equipe que envolve técnicos, diretores de agrupamentos de escolas e da escola secundária, IEFP e demais agentes educativos. A proposta foi amplamente participada por todos os agentes educativos da comunidade e faz o diagnóstico da realidade concelhia através da análise de vários indicadores educativos, traçando igualmente objetivos e estratégias de intervenção a seguir em vários domínios.

A proposta de Paredes está atrelada com o princípio 6 da Carta das Cidades Educadoras que diz:

Com o fim de levar a cabo uma atuação adequada, os responsáveis pela política municipal duma cidade deverão possuir uma informação precisa sobre a situação e as necessidades dos seus habitantes. Com este objetivo, deverão realizar estudos que manterão atualizados e tornarão públicos, e prever canais abertos (meios de comunicação) permanentes com os indivíduos e os grupos que permitirão a formulação de projetos concretos e de política geral. Da mesma maneira, o município face a processos de tomada de decisões em cada um dos seus domínios de responsabilidade, deverá ter em conta o seu impacto educador e formativo.

Para Caieiras tornar-se uma cidade semelhante a Paredes no quesito educação, será necessário que o governo eleito democraticamente junto com a Câmara Municipal se comprometa a incentivar novos projetos em educação, semelhante a cidade de Paredes de tal modo que   podem ser resumidos nas seguintes palavras da Carta das Cidades Educadoras (2004, s.p.): “hoje, mais do que nunca, as cidades, grandes ou pequenas, dispõem de inúmeras possibilidades educadoras”, devendo “ocupar-se prioritariamente com as crianças e jovens, […] numa formação ao longo da vida”.

Neste ponto, a diferença entre Paredes e Caieiras é gritante, haja vista que a educação em Paredes é voltada para a vida na cidade, apreciando a tradição e os valores humanos que numa cidade educadora é sua essência.  Já Caieiras é ainda uma cidade considerada tranquila com potencial de crescimento, no entanto, a grande missão dos políticos atuais é garantir para o futuro poder uma estrutura fincada nos valores tradicionais para que a cidade não perca a sua personalidade transformando apenas como uma continuação da expansão da desumana capital paulista.

A Dra. Tania Shibata é bem firme ao afirmar que o caminho para Caieiras é:

Fazer que nem Paredes, ser uma Cidade Educadora efetivamente, ou seja, pegar todos os setores e focar muito na educação. Se você não pegar o setor da saúde, da segurança, de todos os órgãos e institutos que você tem lá, você não vai conseguir, porque é com essa união que você efetivamente vai criar uma cidade forte em tradição, em segurança e em tudo isso[50]

Seguindo exemplos como cidades educadoras no Brasil que vêm dando certo como é o caso de Santos:

Santos que é uma Cidade Educadora, você precisa pensar em todos. Essa cidade tem um projeto que eu achei muito bonito, que é “Vovó sabe tudo”, então quer dizer, você tem hoje idosos, e você dá condições para esse idoso ser também uma pessoa produtiva e auxiliar no trabalho da cidade. Então, acho que você não pode deixar perder nenhuma oportunidade. O setor político tem que pensar amplamente sobre isso daí, porque a situação do Brasil é grave e você tem que aproveitar todos. [51]

 

Considerações finais

A entrevista da doutora Tania Shibata foi de um valor imenso para a reflexão de uma cidade que se desumanizou rapidamente por conta do movimento frenético em busca do dinheiro a qualquer custo. São Paulo é uma cidade para quem quer viver próximo do dinheiro, inserido na engrenagem da circulação frenética do capital. Uma cidade que tem por vocação o olhar para o ser humano como uma peça de oportunidade para o lucro.

De modo contrário, a 30 km do centro da capital paulista, o município de Caieiras, que por sua história e constituição urbana, se originou majoritariamente no interior da fazenda de eucaliptos das terras da Cia Melhoramentos, ainda conserva sólidos traços de valores humanos tradicionais que podem ser notados nas comunidades dos bairros. Obviamente, é um município inserido na lógica capitalista que precisa de dinheiro para manter sua infraestrutura, mas ainda, o ser humano não é visto só como uma peça de oportunidade para obtenção de lucros.

Por esta ótica, é possível também traçar um paralelo com a cidade de Paredes na região metropolitana de Porto ao norte de Portugal. Paredes, mesmo sendo uma cidade que é reportada em certo ponto a Caieiras pela sua paisagem, segundo a nossa entrevistada, tem uma diferença abissal no quesito “educação”, a cidade é constituída de um povo extremamente educado e preocupado com a cidade, que por sua vez, o poder público, diferentemente de Caieiras, investe pesadamente na formação humana desde a educação infantil e ao longo de toda vida.

Tania acredita que uma sociedade bem educada é aquela que tem a escola como centro comunitário, a qual valoriza a família e as igrejas como instituições chaves que orientam o desenvolvimento de valores que vão contribuir para um padrão moral de convivência solidária. No entanto, se a escola é complacente com a cultura periférica, no que tange a normatização dos ritmos musicais repetitivos e recheados de letras apologéticas e maléficas que atentam contra a dignidade humana, a escola será, portanto, apenas mais uma medíocre colaboradora da ideia normatizante da violência, da prostituição infantil e do uso de drogas ilícitas.  A cultura fortemente propagandeada pela música, terá na escola uma terra fértil para se alastrar por toda a sociedade, tratando o mal, como algo normal da modernidade.

Soma-se a essa cultura de degradação do ser humano, com uma sociedade imersa na busca do dinheiro a qualquer custo, que encontra no capital e no acúmulo de riquezas, as justificativas para o apequenamento dos valores como a honestidade, a solidariedade, a fraternidade, abrindo mais ainda espaços para comportamentos de interesse, de busca de lucro fácil, de esperteza e de desonestidade. Instalando-se assim a crise daqueles valores fundamentais que já não se reconhecem como alicerces do relacionamento humano. Neste arcabouço de descrenças, a educação institucionalizada no papel do estado que deveria ser um mecanismo social direcionando à sociedade para um comportamento saudável, já não consegue transmitir sequer um conjunto de ideias motriz às nossas condutas pessoais.

Para enfrentar o problema da crise dos valores do ser humano que contribui para a desumanização na cidade, Tania buscou apoio nas religiões presentes nos bairros e trouxe esses valores cristãos sutilmente para dentro da escola em forma de projeto: “Semana do Bem”. Com Tania Shibata, foram anos que as Igrejas de Caieiras tiveram amplo apoio do poder público municipal, representado nos bairros pela secretaria da Cultura.

Assim, posso afirmar com base na entrevista, que Tania Shibata acredita que os valores quando bem assentados na vida das pessoas, precisam ser partilhados na comunidade que se reúne num lugar onde o Estado se faz presente, ou seja, na Escola. É na escola que os valores cristãos podem ser incentivados ou rejeitados, de modo que possam ou não orientar as ações individuais de comportamento que vão num conjunto afetar a comunidade para o bem ou para o mal, tendo na figura do professor, a chave para esta orientação.

Não há números quantitativos e qualitativos que possam comprovar a contribuição massiva da prática da cultura do bem sobre a cultura do mal nas escolas por meio da Secretaria da Cultura e o resultado que as religiões trouxeram para a cidade no tratamento dos valores cristãos aos jovens nos bairros. O que se tem, são números no mínimo curiosos que chamam a atenção para o ano de 2009, quando o prefeito Dr. Roberto Hamamoto assumiu a gestão municipal e a cidade de Caieiras contabilizou 12,9 homicídios para grupo de 100 mil habitantes, demostrando que a cidade ostentava alto índice de violência. Só para efeito comparativo, a ONU classifica 10 mortes para um grupo de 100 mil habitantes, como epidemia.

Com base nos números da Secretaria de Segurança do Estado de São Paulo[52]. O número de homicídios em Caieiras despencou para 4,2 mortes em um grupo de 100 mil habitantes em 2015. Furto que chegou em 636,3 em 2009, não passou de 618,3 em 2015. Roubo caiu de 445,4 para 324,6. Em 2009, chegou a impressionante marca de 465, de veículos roubados, mas em 2015 com um número muito maior de automóveis nas ruas foram contabilizados apenas 169,8. O número de veículos furtados também caiu de 453,5 em 2009 para 237,2 em 2015. Quando comparado com os municípios adjacentes, Francisco Morato por exemplo, chegou em 2015 com 14, 2 morte para um grupo de 100 mil habitantes, enquanto Franco da Rocha atingiu 12, 8, e Mairiporã, a mais violenta na Região, atingindo 20 mortes para 92.323 habitantes, uma média de 21,7 homicídios para um grupo de 100 mil habitantes.

São números que comprovam que a cidade de Caieiras em apenas 6 anos entrou no seleto grupo das 100 melhores cidades do Brasil para se viver segundo a FIRJAN[53], vindo a comprovar que houve de certa forma uma soma de políticas públicas no município de Caieiras que levaram a esses resultados. Certamente, Dra. Tania fez parte da equipe de governo, tendo na secretaria da Cultura, um setor estratégico para a aplicabilidade do modelo de governo do então prefeito Dr. Roberto Hamamoto.

A entrevista com Tania nos traz esperança na procura de um caminho para a (re)humanização do ser humano que por meio do lucro a qualquer custo se desumanizou contribuindo para o aprofundamento da crise de valores.   Tania por meio da prática do bem nas escolas, nos faz olhar para a família como um porto seguro onde podemos nos ancorar e traçar um novo caminho de volta por mares já bem navegados pelos nossos antepassados.

As religiões, tão criticadas pela mídia e por professores marxistas chegando ao ponto da ridicularização por aqueles supostos doutores críticos, inconscientemente é uma crítica gratuita, sem gloria que apenas destrói o sentido de vida do estudante em sala de aula, que ainda não teve a oportunidade se sentir os saberes do pensamento universal nas universidades, e só conhece os valores do seu lugar de relação humana, a igreja. Portanto, a igreja tem na advogada kardecista um papel fundamental, na medida em que se torna exemplo de estabelecimento de juízo crítico para o acerto das decisões humanas. A escola que olha para a família e para as igrejas como instituições parceiras na nobre arte de educar, certamente, terá mais êxito na construção de uma sociedade mais fraterna, ousando atravessar os valores relativistas tão marcantes na sociedade do consumo, para a sociedade de valores fraternos, oportunizando assim a utopia da busca pela renovação humanitária.

Se vamos chegar a isso, não se sabe, de todo modo, a esperança nos faz viver em movimento.

 

Referências:

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PEREIRA, Valdinei. São Paulo e Rio de Janeiro: Hipermetrópoles, turismo e moda como economias culturais do espaço. Tese de Doutoramento – USP; 2010.

 

ANEXO

Esta entrevista que estamos dando início, tem por objetivo atender as exigências da disciplina em “Pesquisa Narrativa: epistemologias em construção” que foi oferecida ao longo do primeiro semestre de 2019, pelos professores doutores Marcelo Furlin e Adriana Barroso de Azevedo, no curso de Doutorado em Educação pela Universidade Metodista de São Paulo.

Nossa entrevistada é a Dra. Tania Shibata. E por que essa escolha?

Dr.ª Tânia morou muito tempo em Caieiras, onde foi Secretária da Cultura por oito anos, conhece muito bem São Paulo, pois é onde trabalha e tem um escritório de advocacia, no cruzamento da avenida Paulista com a rua Augusta, no segundo andar do edifício Nacional e reside aqui na alameda França, aonde estamos nesse momento, próximo ao seu local de trabalho.

O fato da Dra. Tania viajar para muitas cidades do Brasil e do mundo e ser de Caieiras, pode oferecer uma contribuição muito grande para a Pesquisa Narrativa. Nesta entrevista vamos tratar de um assunto muito discutido na Europa, mas ainda de pouco conhecimento no Brasil que são as “Cidades Educadoras”, e vamos tentar relacionar Caieiras, enquanto cidade da região metropolitana de São Paulo, com alguma outra cidade educadora do mundo.

 

Prof.º –Dra. Tania, enquanto residente e trabalhadora da cidade de São Paulo, qual a sua visão, como um todo para essa cidade que você conhece tão bem?

Dr.ª – São Paulo pra mim é uma cidade muito diferente, difícil de explicar… Olha que eu conheço muitas cidades pelo mundo! As grandes cidades americanas como Nova Iorque, por exemplo, que todo mundo fala… Mas sinceramente, São Paulo ao mesmo tempo que é uma cidade acolhedora que oferece oportunidades para todos sem distinções de credos, raças ou nacionalidades, também tem seu lado negativo, tem muitos problemas. Vejo uma cidade muito difícil para quem mora aqui, as condições de moradias nas periferias, por exemplo, são ruins, muito aglomeradas, não há espaço para lazer, o lazer é em cima da laje, quando se tem uma laje (risos), mesmo em regiões melhores também as pessoas são obrigadas a viverem em pequenos apartamentos, sem espaço. Para quem se locomove por São Paulo da casa para o trabalho, encontra muitas dificuldades nos transportes públicos, trânsito muito carregado, muito barulho, muita poluição. A loucura dessa cidade é incompreensível, parece que tudo gira em torno da correria frenética para a busca de dinheiro a qualquer custo.   Em São Paulo parece que o sentido de vida das pessoas é caçar dinheiro, fazendo desse lugar, um lugar desumano.  Isso me incomoda, porque em muitas cidades da Europa, a cultura é valorizada, o outro é valorizado. Aqui em São Paulo há muitos pontos de cultura, mas quem vai? Há tempo para ir? E se for, não estarão perdendo o tempo que poderia ser usado para se ganhar mais dinheiro?  Só você ir agora ao museu, teatro, exposições e comparar com os shoppings centers, locais que mesmo nos finais de semana, são lugares de trabalho e consumo.

 

Prof. º – Será que é só a intensidade do trabalho que faz de São Paulo uma cidade desumana?

Dr. ª – Eu acho assim, quando você efetivamente vai focar no trabalho, realmente você perde um pouco da humanidade no convívio com as pessoas. Meu caso, por exemplo, somos advogados, trabalhamos com medidas urgentes, então a gente trabalha muito, de segunda a segunda. Há vezes que eu trabalho até três, quatro horas da manhã, de sábado, domingo… Eu recebo clientes no domingo e vou até meia-noite, porque são casos extremamente urgentes. Então assim, é uma opção de vida que a gente faz e realmente isso nos torna um pouco desumanos com relação ao convívio social, o que não é um problema pra gente. Agora, se você quer uma outra opção de vida, obviamente que a cidade de São Paulo vai te negar, porque ela vai impor a vida frenética, essa vida, sabe, de você ter que ir, ter que acompanhar a loucura, ser empurrado. Por isso, mesmo que você não queira, só por estar aqui você é obrigado a se movimentar.

 

Prof.º – E no caso de Caieiras, por qual motivo você optou por morar lá?

Dr. ª – Eu conheço muitas cidades, Caieiras lá no começo dos anos 2000 tinha um jeitinho de cidade do interior, com muito verde, os bairros com jeito de vilas, as ruas bem cuidadas, pessoas conversavam, se conheciam, as crianças corriam de um lado pro outro, empinando pipa, jogando bola. Na época nem semáforo tinha na parte central da cidade e tudo muito perto de São Paulo. Caieiras foi assim… como posso dizer, amor à primeira vista! Eu e meu marido, pensamos em mudar para a cidade de Caieiras em busca dessa qualidade de vida que a gente queria, tentando dar um freio nessa vida frenética. Assim entre aspas, a gente pode “brincar de trabalhar”, pois achamos divertido trabalhar, mas a gente precisa de uma qualidade de vida.  E assim, como o corpo nem sempre acompanha aquilo que nós queremos, então por conta disso, nós pensamos muito em mudar do lugar que nos fazia correr o todo tempo para um lugar que oferecia qualidade de vida e ainda próximo do local de trabalho.

 

Prof.º – Há muitas matérias em jornais, do período em que você esteve à frente da secretaria da Cultura, mostrando que você realizou diversos trabalhos nas periferias de Caieiras. Como você enxerga a periferia de Caieiras?

Dr. ª – Olha, eu vejo a periferia de Caieiras bem diferente de São Paulo. Em São Paulo a periferia é assim, um mar de concreto gigante. Você anda, anda, sobe, desce, anda mais e mais e não termina nunca! Enquanto que em Caieiras, nos bairros distantes do centro, existem pontos empobrecidos, onde o sentimento das pessoas se confunde com o sentimento que elas têm pelo lugar, vamos dizer assim, um tipo de sentimento bairrista.

Por exemplo, o morador da Vila Rosina, tem consciência que ali é Vila Rosina, um bairro bem pequeno, um lugar separado de tudo. O Jardim Aparecida também está separado de todo mundo, está distante de Laranjeiras e mais distante ainda do Morro Grande. O Morro Grande está bem distante de Santa Inês e assim por diante. Eu vejo que esse distanciamento entre os bairros desperta um sentimento de pertencimento específico nas pessoas de cada bairro. Diferente de São Paulo que tudo é uma coisa só, junto e misturado, sem começo e nem fim. As pessoas identificam nos bairros de São Paulo distantes do centro, como moradores da periferia. Os moradores de Caieiras parecem que não têm essa ideia de periferia, eles têm essa consciência de pertencer a um bairro, está me entendendo?

Quando eu cheguei na secretaria da cultura, percebi o sentimento bairrista nas pessoas. Elas reclamavam que o foco da secretaria da cultura estava no centro e falavam do seu bairro como se elas fossem o próprio bairro, com gostos diferentes. Por exemplo, no bairro de Vila Rosina, o Funk para os jovens é muito forte. Na área central o Hip Hop, Rock e Pop têm mais força. Já na serra da Cantareira, no bairro Santa Inês predomina o sertanejo. E em todos os lugares, a presença da religião é bem forte, todos os bairros têm escolas públicas para onde esses jovens vão, eu percebi que a escola no bairro é o lugar onde a cultura local se encontra.  Por conta disso, criei o projeto chamado Bairro Multicultural atrelado à escola, que era o trabalho de levar a cultura globalizada para os bairros, respeitando e valorizando a cultura local. O projeto bairro multicultural em parceria com a secretaria da educação funcionava como um termômetro para saber quais problemas locais que existiam e para buscar soluções. Foi um projeto muito gratificante, porque as pessoas se conheciam e um falava para o outro sobre o trabalho que tinha ali na comunidade, então as pessoas iam chegando por conta dessa comunicação entre eles. Era assim bem diferente, como uma cidade de interior, onde as pessoas têm um convívio mais próximo.

 

Prof.º – E como que você enxerga a escola presente nos bairros de Caieiras?

Dr.ª – Eu vejo a escola como uma instituição com boas intenções, mas que se depara com as atitudes comportamentais dos jovens, que nem sempre contribui para que a escola consiga devolver para o mercado de trabalho, jovens bem formados. Um exemplo são os que fazem opção por levar ao ambiente escolar, músicas que fazem apologia à criminalidade, sexo, drogas e violência, fazendo eles acreditarem que o mundo é isso.

Essa foi uma das razões que fez a gente desenvolver na Secretaria da Cultura, a “semana do bem” que na verdade não foi uma única semana, foram várias semanas que antecediam a semana santa, onde era realizado nas escolas: teatros, shows, palestras sempre com uma mensagem boa. Tentando mostrar um outro lado daqueles que a cultura funkeira nos bairros costuma mostrar.

Por quase um mês a secretaria ficava mobilizada de manhã até a noite para conviver com os alunos em pelo menos 20 escolas do município, em todos os bairros, porque nós acreditávamos no projeto, na ideia de, por meio da cultura, fazer o bem para as pessoas, e dessa forma a cultura do bem foi um mecanismo de apoio para o trabalho da escola. Esse projeto foi tão gratificante que muitos alunos foram atingidos, alguns largaram as drogas, a violência, encontrando um sentido para suas vidas. Foi divertido, prazeroso e de muita experiência. Foi um trabalho onde eu me senti realizada em fazer para a comunidade, pois o propósito foi esse quando eu fui para atuar na Secretaria da Cultura.

 

Prof. Você citou que o projeto Semana do Bem antecedia a semana santa e que este trabalho de apoio às escolas até tirou alunos das drogas e violência. Explique melhor a atuação desse projeto.

Olha, como secretária da cultura eu não poderia deixar de valorizar a tradição religiosa tão presente nos bairros e principalmente na área central da cidade. Uma dessas tradições era a encenação em amplo espaço público da Paixão de Cristo, onde os alunos do teatro municipal são os atores que nesse dia, apresentam o resultado de suas aulas de teatro. Mas eu pensava, por que não aproveitar esse clima, a encenação dessa história, para propagar sentimentos e atitudes boas nos alunos, em seu ambiente escolar?

A situação das escolas e os trabalhos das instituições religiosas nos bairros de resgate de vida através do sagrado, foi uma motivação! E digo isso, porque a cultura desse Funk profano é muito perniciosa para aqueles jovens que a família confia que a escola é um lugar de mudança de vida, mas que ao se depararem com os excessos de críticas às suas religiões, principalmente vindas de seus professores ateus, acabam sem rumo, desistindo de sua fé e muitas vezes embarcando em comportamentos totalmente contrários ao que acreditavam antes. Nesse momento você perde aquele aluno que tem a referência na Igreja para a cultura funkeira que tem como referência, a droga, a prostituição, a criminalidade.

Assim, eu sou espírita, na minha religião a gente aprende que nossa vida é conduzida por ações e escolhas que são tomadas a partir dos nossos valores. A pessoa que sou hoje, devo muito a minha tradição religiosa. Um professor que sonha com uma sociedade sem valores religiosos, vai criticar os valores dos espíritas, dos evangélicos, dos católicos, dos judeus, assim por diante. A escola que recebe alunos de famílias religiosas, deveria ver as religiões como parceiras muito próximas da educação.

Eu na secretaria da Cultura, valorizava sim o trabalho das instituições religiosas. Em Laranjeiras, por exemplo, tinha uma comunidade que na minha época apoiei muito, cheguei a tirar dinheiro do próprio bolso, porque testemunhei o resultado da quantidade de jovens que saia das drogas, da prostituição, porque a igreja realizava um trabalho restaurador de vidas, coisa que eu não via na escola. Eram as igrejas que faziam o bem, eu nunca me importei se a instituição era evangélica, católica, testemunha de Jeová ou espírita, o importante para mim era aquela instituição fazer o bem.

Foi esta cultura de fazer o bem das igrejas que me motivou levar essa cultura do bem para a escolas. Vejo que o professor tem muito poder. Ele pode, se quiser, com pequenos gestos de elogios incentivar seus alunos a ter uma vida ativa nas comunidades religiosas e a crítica particular, deixe para quando estiver nos encontros com os amigos, assim, todos ganham com isso.

 

Prof.º – Agora vamos fazer uma pequena intervenção da seguinte forma, falamos um pouquinho de São Paulo, um pouquinho de Caieiras. Eu tenho um papel em minhas mãos, que são algumas cidades, eu gostaria que você me falasse qual dessas cidades você conhece? Se você conhece? E se é possível fazer um paralelo com o município de Caieiras?

Dr.ª – Braga, Cascais, Évora, Lívia, Lisboa, Porto, Paredes. Aliás, Paredes eu dei uma boa olhada, é uma cidade que me interessou, porque pensamos em ter um escritório lá. Eu moraria lá com certeza! Está bem próxima de Porto, que é uma cidade encantadora pra mim, tem muita tradição, muitas coisas antigas, ao contrário de Lisboa, que é um pouco mais cosmopolita. Porto é muito interessante, adorei aquele lugar também pelo seu aspecto de cidade grande, eu acho que quem está em São Paulo é difícil sair para outra cidade que não seja parecida com São Paulo. Porto é obviamente bem menor que São Paulo, tem uma qualidade cultural muito grande e tem uma série de atividades e de serviços que a cidade de São Paulo tem, funciona bem a noite, tem muitos teatros, bons restaurantes, e é bem mais seguro que São Paulo.

 

Prof.º – E por que Paredes?

Eu estava investigando qual cidade eu moraria, uma delas é essa, Paredes. Como falei, estava em busca de qualidade de vida e se tivesse que morar e ter um escritório, talvez fosse essa, por estar a mais ou menos trinta minutos de Porto. Além disso, é interessante que o caminho de Porto sentido Paredes, tem a paisagem que lembra bem Caieiras com seus pinheiros e montanhas e aquela sensação de tranquilidade, de quem está saindo de um lugar intenso para um lugar mais tranquilo. Como disse, não que Porto seja intenso, Porto é bem diferente de São Paulo, que respira dinheiro, enquanto lá se respira cultura, são coisas bem diferentes, mas o que quero dizer é a sensação de tranquilidade que a paisagem provoca na gente.  A cidade em si, é assim, bem tranquila, segura, muito limpa e as pessoas muito educadas.

 

Prof.º – Qual o nível de violência em Paredes?

Dr.ª – Acho que o nível de violência em Portugal como um todo é quase zero, porque há uns dez anos, quando houve uma certa invasão, inclusive africana e que levava esses problemas com relação às drogas, eles conseguiram coibir muito isso tudo, então hoje você não vê. E sabe, isso se deu através da Educação. Não há outra forma de fazer isso se não for assim.

 

Prof.º – Você conseguiu ver algum movimento educativo na cidade de Paredes ou Porto? Qual a imagem que você tem da educação em Paredes e em Porto, comparando com Caieiras?

Dr.ª – Então, a Europa em si, tem praticamente o mesmo sistema educacional, onde se levam muito os alunos para ir aos museus, para conhecerem, para debaterem, e esse movimento você vê em torno da Europa e obviamente também em Portugal. Você vê os grupos de alunos indo. Onde tem uma exposição, você vê crianças e idosos indo e aprendendo. Fantástico! Em Portugal, tem um canal que quando estou lá, eu vejo dia e noite, que são músicas eruditas fantásticas, com uma linguagem jovial e todas elas são tocadas as vezes por crianças, ou por adolescentes e que dão uma nova forma pra aquela música, uma forma bem moderna e é assim lindíssimo! Então você compara, uma música erudita aqui no Brasil, por exemplo, você quase nem escuta né? Enquanto lá na Europa, você vê isso em praças, crianças tocando sozinhas, crianças tocando com os pais, é uma coisa normal, uma coisa moderna e existe essa tradição lá, pois é muito reforçado isso. Em Portugal, manter a sua tradição é muito importante, é claro que em cada cidade existem os festivais, como o festival da cereja, ou seja, manter esse encontro com todo mundo. Na verdade, Paredes respira educação, porque a prefeitura investe muito em educação, aqui eu vejo uma grande diferença com a prefeitura de Caieiras.  Comparado com Paredes, Caieiras investe quase nada em Educação.  Quem consegue suprir essa deficiência escolar pública em Caieiras, tanto no estado, como na prefeitura, são as escolas particulares, o que seria em Portugal equivalente às piores escolas públicas.

 

Prof.º – Ainda tocando nesse assunto da música, como que você vê, fazendo esse contraponto entre Portugal, Porto e Paredes, São Paulo e Caieiras, a música como cultura nas periferias Paulistanas?

Dr.ª – Tristemente falando, até um dia eu comentei com meu marido quando estava escutando um funk carioca, eu falei assim: nossa eles fizeram a concordância, porque geralmente não tem né. Então eu fiquei admirada de ver que nessa letra de música havia concordância, flexão e os plurais, essas coisas todas. É claro que a gente fica muito triste de ver esse tipo de música sendo difundida mais ainda pela classe média, porque eles acham engraçado esse tipo música, mas que não é! Porque fala de sexo, fala sobre um monte de coisas, não desmerecendo de forma alguma, porque eu também vejo uma certa cultura e qualidade em quem faz funk, por quanto que assim eles não têm muita opção e conseguem tirar do nada uma música, seja ela qual for, mas pra sociedade é triste esse tipo de música sim.

 

Prof.º – Você consegue ver esse tipo de música, de cultura, afetar ou não a educação?

Dr.ª – Olha, o funk você sabe que afeta sim, eles fazem algumas apologias contra a polícia, contra uma série de coisas. Acredito que sim, mas é uma forma de expressão que a comunidade tem, que encontrou. Uma forma alegre de se manifestar e de mostrar pra gente o que está acontecendo né? Então, quando você escuta uma letra de funk, você vê que realmente precisa de um trabalho sério, e não é um trabalho de dois ou três, mas tem que ser o estado organizando esse trabalho em conjunto.

 

Prof.º – A escola hoje, tem como dar uma resposta a curto prazo para a transformação dessa cultura, dessa sociedade dominada pela cultura do funk?

Dr.ª – A curto prazo eu não vejo isso no Brasil, porque o nosso problema maior é com relação as drogas. Então, pelo que você vê fora e pelo que você vê aqui no Brasil, eu acho que não seria possível a curto prazo, mas eu penso assim, nós somos um país novo, muitas pessoas desanimam, dizem que o problema é a corrupção e o estudo, mas eu acho que a gente está caminhando, tem coisas boas, o brasileiro é bom, não podemos achar que nada vai ser possível de mudar.  Eu vejo como você, com seu trabalho hoje trazendo coisas importantes, muitas outras pessoas também se importando com isso, não acredito que seja rápido, porque o crescimento de uma nação também não é tão rápido. Somos mais de duzentos milhões, isso nos torna quase que um elefante mais devagar, mas ao mesmo tempo eu acho que a gente consegue fazer alguma coisa.

 

Prof.º – A seu ver, pensando nessa tradição que você falou, o que caracteriza essa paixão que a gente vê muito em outros países, essa paixão pelo país, a paixão dos alemães pela Alemanha, dos americanos pelo Estados Unidos, a paixão dos Portugueses por Portugal, e que aqui no Brasil nós não estamos vendo o brasileiro apaixonado pelo país? Como que você entende essa paixão de outros povos por outras nacionalidades, e a paixão que não existe do brasileiro pelo Brasil?

Dr.ª – Se você for pegar um exemplo dos Estados Unidos, que tem mais ou menos a mesma época que a gente que está caminhando, como é que o americano tem essa fascinação pelo seu país e levou esse país a essa potência?  Dentre outras coisas, é porque foram tomadas medidas de governo incentivando esse nacionalismo, então todo filme americano, qualquer que seja, é obrigatório ter uma bandeira americana, isso teve, e fora isso teve também as forças armadas americanas, onde elas destinam uma verba para um trabalho de marketing, então por exemplo: Top Gun, você coloca um menino loiro, bonito, americano e herói e que está defendendo sua nação, sempre tem isso, então, lamentavelmente as pessoas são contagiadas pela mídia, aí querem ser aquele menino loirinho de olhos azuis, com uma menina super bacana. O governo aqui no Brasil, não tem feito esse trabalho, por isso que falo que lamentavelmente se diz que nós temos aí uma tendência meio vira-lata e o que acontece com isso? A gente fica muito vulnerável a outras culturas entrarem pra cá, principalmente americana. Sabemos que os americanos têm muitas coisas aqui, trazendo não só a cultura deles, mas aproveitando desse mercado brasileiro que é gigantesco.

 

Prof.º – Doutora, nessa relação Paredes em Portugal, que é uma cidade educadora e Caieiras que ainda não é uma cidade educadora. Qual a relação que pode ser feita com a cidade em Portugal e com essa cidade de Caieiras que você conhece tão bem? Qual a diferença? Qual a semelhança nesse primeiro momento?

Dr.ª – A semelhança é porque a população é bem equivalente, a estrutura da cidade também é um pouco parecida com a cidade de Caieiras. A diferença é óbvia, que lá já é uma cidade educadora, por conta disso, todos já têm essa consciência, que juntos dá para se formar e se fazer um trabalho bom pra cidade. Obviamente que se é bom pra cidade, pensando amplamente, é bom para o país. Eu acho que a cidade de Caieiras tem que realmente focar nisso, porque é uma cidade que tem muita visibilidade, pela questão positiva que a maioria das pessoas tem de Caieiras. Muitos consideram que é uma cidade boa, ainda é uma cidade tranquila, ainda tem muitas possibilidades de crescimento, ao contrário dos vizinhos de Caieiras como Francisco Morato que tem problemas enormes e Franco da Rocha que também tem. Então, acho que Caieiras tem que tomar um cuidado para que não venha sofrer problemas maiores.

 

Prof.º- Agora que você está um pouco afastada de Caieiras, mas está sempre por lá, qual a sua visão de Caieiras hoje, inclusive pensando pelo futuro dessa cidade?

Dr.ª – Eu acho que a cidade de Caieiras cresceu bastante. Estou falando do crescimento estrutural, porque você tem vários loteamentos. Isso não é o crescimento populacional, isso é a grande oferta de espaços para as pessoas, onde outras pessoas, de outros locais, terão a oportunidade uma vez que escolham morar em Caieiras, já que é próxima de São Paulo e tem condução como trem que dá acesso direto ao metrô para irem pra São Paulo tranquilamente. Se pensar na tradição da cidade de Caieiras, esse movimento pode descaracterizá-la totalmente! Pois aí você vai ter outras pessoas, já que as oportunidades não seriam somente para a população caieirense, mas a oportunidade desses novos loteamentos seria para todos.

 

Prof.º – E como garantir que essa mudança não ocorra? De que forma você pensa?

Dr.ª – A única forma de garantir tudo isso, não tem dúvida que é sim pelo poder político, é ele que detém toda essa estrutura para que não perca a tradição, não perca a personalidade da cidade e que conviva com o desenvolvimento que hoje a cidade de Caieiras está tendo.

 

Prof.º – E como que você vê a relação de Franco da Rocha com Caieiras? Caieiras poderia estar sendo de alguma forma beneficiada com Franco da Rocha ou prejudicada? E de que forma?

Dr.ª – Olha, pode ser que eu esteja errada, mas muitas pessoas que moram em Franco da Rocha, nem gostam muito de citar que são de lá. Você sendo um vizinho, morando nas proximidades de Caieiras é muito mais fácil hoje falar que é um cidadão caieirense, justamente eu que andei por aí, fiquei dois anos procurando um lugar para morar na serra da Cantareira e o que mais me encantou em escolher esse lugar em Caieiras foi justamente isso, uma cidade limpa, uma cidade que tinha uma organização, ao contrário das outras. Eu acho que tudo isso é um atrativo muito grande e isso o poder público tem que ter essa visão, para que não se torne um problema futuramente.

 

Prof.º – Pra você, de que forma a educação poderia contribuir para Caieiras se tornar ou se manter essa cidade que é ainda hoje?

Dr.ª – Eu acho que é fazer que nem Paredes, ser uma Cidade Educadora efetivamente, ou seja, pegar todos os setores e focar muito na educação. Se você não pegar o setor da saúde, da segurança, de todos os órgãos e institutos que você tem lá, você não vai conseguir, porque é com essa união que você efetivamente vai criar uma cidade forte em tradição, em segurança e em tudo isso.

 

Prof.º – Tudo focado na criança?

Dr.ª – Eu acho que não necessariamente. Você pode focar na criança, até deve, mas eu acho que se você quiser fazer um trabalho, como por exemplo, Santos que é uma Cidade Educadora, você precisa pensar em todos. Essa cidade tem um projeto que eu achei muito bonito, que é “Vovó sabe tudo”, então quer dizer, você tem hoje idosos, e você dá condições para esse idoso ser também uma pessoa produtiva e auxiliar no trabalho da cidade. Então, acho que você não pode deixar perder nenhuma oportunidade. O setor político tem que pensar amplamente sobre isso daí, porque a situação do Brasil é grave e você tem que aproveitar todos, obviamente que a criança você precisa muito dar essa estrutura, então ela que merece uma atenção extremamente especial, agora isso não quer dizer que os outros, os adolescentes, os idosos não possam também ter essa atenção.

 

[1]. O Partido Verde é dividido no Estado de São Paulo em 21 bacias hidrográficas, a região Caieiras faz parte da Bacia 7, juntamente com os municípios Francisco Morato, Franco da Rocha, Mairiporã, Guarulhos, Poá, Biritiba Mirim, Ferraz de Vasconcelos, Guarulhos, Suzano, Mogi das Cruzes e Itaquaquecetuba.

[2]. Caieiras, Franco da Rocha, Francisco Morato, Mairiporã e Cajamar.

[3]. Anexo p. 30

[4]. https://cidades.ibge.gov.br/brasil/sp/sao-paulo/panorama (acesso em 25/07/2019)

[5]. https://exame.abril.com.br/economia/as-20-cidades-com-as-maiores-economias-do-brasil/ (acesso em 25/07/2019)

[6]. Anexo p. 31

[7]. Aqui o adjetivo é uma referência a um estilo de vida não convencional, despreocupado, que busca atividades musicais, artísticas ou literárias no contexto de uma metrópole vocacionada ao trabalho.

[8]. LE GOFF, 2010.p. 9

[9]. Aqui tratamos como a primeira revolução agrícola, um período de acontecimentos que levou o ser humano que viveu a cerca de 10 mil anos a.C., migrarem do sistema de caça e coleta para a agricultura

[10]. MORAES, 2013

[11]. Anexo p. 32

[12]. LANGENBUCH, 1971.

[13].  “São Paulo, cidade  trimilionaria”, é o título do capitulo 1, do volume 1 do livro: Cidade de São Paulo,  um estudo de geografia urbana de Aroldo de Azevedo, 1958

[14].  A Ingleza (com z), assim era conhecida a São Paulo Railway Company, empresa inglesa responsável pela construção da primeira ferrovia do Estado, que entrou em operação em fevereiro de 1867. O primeiro trecho, de 139 km ligava o porto de Santos a Jundiaí.

[15] . LANGENBUCH, 1971.

[16].  MARTINS, 1989 p. 30.

[17]. LANGENBUCH, 1971.

[18].  ______________________ p. 129.

[19]. PEREIRA, 2010.

[20]. O tropeirismo foi uma atividade de fundamental importância no Estado de São Paulo, para o transporte, em lombos de mula, do café produzido no interior paulista até o litoral.

[21].  AZEVEDO, 1958, p. 10.

[22]. A divisa da bandeira da cidade de São Paulo oficializada em 8 de Março de 1917, encontra-se os dizeres “Non ducor duco” quer dizer “Não sou conduzido, conduzo”.

[23]. http://www.ipea.gov.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=24161   (  Acesso   em 21/07/2019).

[24]. MEIRELLES & ATHAYDE, 2014, p. 17.

[25]. SPOSITO, 1994).

[26]. Anexo p. 28

[27]. https://cidades.ibge.gov.br/?codmun=350900 (Acesso em 22/07/2019).

[28]PAZERA JR. 1982, p.19

[29]. São áreas que passaram por um processo natural de regeneração da vegetação, onde no passado houve devastação da floresta primária.

[30]. A Linha 7 – Rubi da CPTM  é a linha mais longa de toda a rede metro-ferroviária de São Paulo, com 60.5 km de extensão, ligando a  Estação da Luz até Jundiaí. É também a única linha da CPTM que possui uma estação terminal fora da Região Metropolitana de São Paulo, em Jundiaí. Esse trecho é parte construída pela extinta São Paulo Railway, sendo inaugurada em 16 de fevereiro de 1867. Até março de 2008, denominava-se Linha A – Marrom.

[31]. PAZERA JR. 1982, p.29.

[32]. Conjuntos de localidades cujas zonas urbanas tenham se tornado limítrofes umas das outras.

[33]. Anexo, p. 31.

[34]. Anexo, p. 31.

[35]. _____, p. 31.

[36]. É um fenômeno urbano que ocorre quando duas ou mais cidades se desenvolvem uma ao lado da outra, te tal forma que acabam se unindo como se fosse apenas uma.

[37]. Em 1877, o Coronel Rodovalho, mandou construir 180 residências para fixar mão-de-obra no local, garantindo manutenção dos empreendimentos fabris, constituindo-se um dos primeiros núcleos habitacionais organizados para trabalhadores livres do Brasil.

[38].   SPÓSITO.1996, pág. 78

[39]. Disponível em; http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8136/tde-04022010-140724/pt-br.php (Acesso em 22/07/2019)

[40]. JORGE, 2009, p. 240.

[41]. GÓMEZ & VILA, 2003. 73.

[42]. JORGE, 2009, p. 237.

[43]. SUBIRATS, 2003, p. 67.

[44]. Anexo, p. 32.

[45]. Centro Cultural Isaura Neves

[46].  Anexo, p. 32.

[47]. Carta das Cidades Educadoras, 2004. Principio 13.

[48].  Anexo, p. 35.

[49]. Boletim 31 – Rede Portuguesa das Cidades Educadoras – disponível em:  https://www.cm-paredes.pt/cmparedes/uploads/document/file/1203/boletim_31_rede_portuguesa_cidades_educadoras.pdf (Acesso em: 01/08/2019)

[50]. Anexo, p. 39.

[51]. Anexo, p. 39.

[52]. https://www.ssp.sp.gov.br/estatistica/pesquisa.aspx (Acesso 01/08/2019)

[53]. A Federação das Indústrias do Rio de Janeiro dentre outras funções, analisa cidades do Brasil visando a promoção da competitividade empresarial.

 

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