No ano do centenário das aparições de Fátima em Portugal, e dos três séculos do encontro da imagem de Nossa Senhora Aparecida, no Brasil, o papa Francisco deixa à toda humanidade, uma mensagem que apresenta a não-violência como estilo duma política de paz.
Com firmeza nas palavras, mas também com sensibilidade e clareza, a mensagem começa apresentando um mundo dilacerado. Fazendo um comparativo com as terríveis guerras do século passado, ameaças de guerra nuclear e um grande número de outros conflitos, nas palavras do papa, hoje infelizmente, “encontramo-nos a braços com uma terrível guerra mundial aos pedaços.” (…) “Esta violência que se exerce ‘aos pedaços’, de maneiras diferentes e a variados níveis, provoca enormes sofrimentos de que estamos bem cientes: guerras em diferentes países e continentes; terrorismo, criminalidade e ataques armados imprevisíveis; abusos sofridos pelos migrantes e vítimas de tráfico humano e devastação ambiental.”
Contudo, mesmo diante de tamanha barbárie humana, é em Jesus que encontramos refúgio e alívio para o sofrimento e é com Ele que aprendemos como agir com misericórdia e amor. Francisco nos lembra que Jesus também viveu em tempos de violência, e nos diz que “(…) a mensagem de Cristo é radicalmente positiva: Ele pregou incansavelmente o amor incondicional de Deus, que acolhe e perdoa, e ensinou os seus discípulos a amar os seus inimigos (cf. Mateus 5, 44) e a oferecer a outra face (cf. Mateus 5, 39). Quando impediu, aqueles que acusavam a adúltera, de a lapidar (cf. João 8, 1-11) e na noite antes de morrer, quando disse a Pedro para repor a espada na bainha (cf. Mateus 26, 52), Jesus traçou o caminho da não-violência que Ele percorreu até ao fim, até à cruz, tendo assim estabelecido a paz e destruído a hostilidade (cf. Efésios 2, 14-16). Hoje, ser verdadeiro discípulo de Jesus significa aderir também à sua proposta de não-violência.”
O papa nos apresenta como exemplos, pessoas que souberam viver e praticar a não-violência, Madre Teresa, Mahatma Gandhi e Khan Abdul Ghaffar Khan, e Martin Luther King. Lembrou também da especial influência exercida por São João Paulo II, com seu ministério e magistério e frisou com veemência: “nenhuma religião é terrorista. A violência é uma profanação do nome de Deus. Nunca nos cansemos de repetir: jamais o nome de Deus pode justificar a violência. Só a paz é santa. Só a paz é santa, não a guerra.”
Se é do coração humano que pode brotar a violência, é na família que deve ser cultivada a não-violência. Nesse sentido, o papa nos diz que, “cônjuges, pais e filhos, irmãos e irmãs aprendem a comunicar e a cuidar uns dos outros desinteressadamente e onde os atritos, ou mesmo os conflitos, devem ser superados, não pela força, mas com o diálogo, o respeito, a busca do bem do outro, a misericórdia e o perdão. A partir da família, a alegria do amor propaga-se pelo mundo, irradiando para toda a sociedade.”
E finaliza apresentando, “Um ‘manual’ desta estratégia de construção da paz a nós apresentado pelo próprio Cristo: O Sermão da Montanha que nos traz as oito Bem-aventuranças (cf. Mateus 5, 3-10) as quais traçam o perfil da pessoa que podemos definir feliz, boa e autêntica. Felizes os mansos – diz Jesus –, os misericordiosos, os pacificadores, os puros de coração, os que têm fome e sede de justiça. Todos desejamos a paz; muitas pessoas a constroem todos os dias com pequenos gestos; muitos sofrem e suportam pacientemente a dificuldade de tantas tentativas para a construir. No ano de 2017, comprometamo-nos, através da oração e da ação, a tornar-nos pessoas que baniram dos seus corações, palavras e gestos a violência, e a construir comunidades não-violentas, que cuidem da casa comum. Nada é impossível, se nos dirigimos a Deus na oração. Todos podem ser artesãos de paz.”